Mervyn Peake é o autor da série Gormenghast e de Mr. Pye; tendo sido, em vida, mais conhecido pelas suas ilustrações a obras como Alice in Wonderland, Dr. Jekyll and Mr. Hyde ou Treasure Island; do que pela sua escrita.
Mr. Pye é o nome da personagem principal – um homem muito direito de costas e ideias, que deseja transformar a mente dos habitantes da ilha e traze-los para o caminho da luz.
Instalado em casa de Miss Dredger, rapidamente lhe modifica os hábitos e a transforma no seu braço direito. Para quebrar toda a malícia ou má vontade em Miss Dredger, convence-a a aproximar-se de uma grande inimiga, Miss George, uma velhota rabugenta e maliciosa, sempre pronta a lançar comentários maldosos e ofensivos.

Para além de modificar o quotidiano da sua hospedeira, Mr. Pye dedica-se a conhecer a ilha, assim como os seus habitantes, e inicia uma cruzada para aproximar os nativos aos visitantes. Mr. Pye não se deixa intimidar pelos modos rudes dos pescadores ou pelos comentários velhacos das quarentonas, ganhando rapidamente a confiança suficiente dos que o rodeiam para falar do Grande Companheiro, Deus.
Mas nem todos os seus planos grandiosos funcionam da melhor forma e o próprio Criador parece não aprovar a vaidade de Mr. Pye, transformando-o numa aberração – uma paródia ambulante. De tal modo que Mr. Pye se vê obrigado a mudar radicalmente os hábitos.
A personagem perfeita e demasiado confiante que é Mr. Pye consegue ser incomodativa e até irritante. Mas não só para o leitor – o sentimento é partilhado por alguns (poucos) habitantes das ilhas. Mr. Pye é de tal forma seguro de si e convencido que, por vezes, descura o que lhe dizem – quando a perfeição é assombrada (ou atingida, dependendo da perspectiva) não podemos deixar de sorrir.
Mr. Pye tem momentos irónicos e sarcásticos, tornando-se numa paródia à religião. Perde apenas nos episódios que exploram a harmonia perfeita do casal, nunca assumido, formado por Mr. Pye e Miss Dredger.

Mr. Pye foi adaptado para um miniserie em 1986, e para uma peça de rádio, pelo próprio autor, nos anos 50. Tanto quanto saiba, do autor, só Titus Groan (da série Gormenghast) foi publicado em Portugal, pela Saída de Emergência.