O maior evento nacional de jogos de tabuleiro chegou e passou demasiado rápido. Enquanto esperamos, pouco pacientemente, pela edição de 2025 (que já tem datas – 3 a 6 de Abril), deixo aqui um apanhado. Pelas minhas contas, aprendemos e jogámos 14 jogos diferentes, estando quase todos na lista que preparámos antes do evento. Pelo meio, desgraçámo-nos com a aquisição de jogos usados. Bem, e na loja de novos também.

Quinta-feira começámos o dia com um abstracto a dois – o género de jogo favorito do meu marido. Por sugestão, escolhemos o Orion, que teria o tempo de jogo apropriado para esperarmos pela hora de almoço. Orion tem um setup variável, com a disposição de galáxias e buracos negros a obedecer a algumas regras de colocação (havendo uma distância mínima obrigatória). O jogo tem morte súbita e o vencedor é o jogador que conseguir concretizar uma das três situações: 1. conectar com os hexágonos da sua cor, 4 peças de galáxia 2. conectar três buracos negros com a cor do adversário 3. connectar dois lados opostos do tabuleiro. Cada jogador vai ter um grupo de peças que pode colocar e cada peça pode possuir hexágonos da sua cor ou da cor do adversário.

O jogo é interessante e é mesmo o género de jogo que adicionaríamos à colecção, não fosse ser demasiado semelhante ao Kamon de Bruno Cathala. Ainda que Kamon seja mais simples em objectivos (sem a complexidade associada às peças de galáxia ou de buracos negro) a nossa percepção é que a experiência de jogo é muito semelhante. Tal como alguns símbolos que encontramos ao redor do tabuleiro.

E falando em Kamon, claro que tivemos de ir experimentar o próximo da colecção, Oxono. Infelizmente, o jogo só ficará disponível no final do ano, pelo que ainda vamos ter de esperar. Trata-se de uma variante aos jogos abstractos de concretização de linhas, sendo que ganha o primeiro jogador a fazer quatro em linha. Este objectivo pode ser concretizado usando cores ou símbolos. O elemento peculiar deste jogo advém da forma como são colocadas peças no tabuleiro, movendo-se uma das peças Totem e colocando-se uma peça da nossa cor ortogonalmente à posição final do Totem.

Já que estávamos na banca da Diver, aproveitámos para experimentar mais uns jogos que estavam na nossa lista – Dorfromantik e Mycelia. Se, para o primeiro tínhamos grandes expectativas (sendo vencedor do Spiel des Jahres de 2023), o segundo estava na lista por poder ser um jogo engraçado para jogar em família. Bem, confesso que gostámos muito pouco do Dorfromantik, parecendo-nos demasiado simplista. Trata-se de um jogo cooperativo de colocação de peças, havendo peças normais de paisagem e peças com objectivos.

Já Mycelia surpreendeu pela positiva dentro do seu género, tanto pelo visual, como por alguns mecanismos. O jogo começa por apresentar a construção de baralho como mecanismo principal, sendo através deste baralho que os jogadores vão poder realizar acções. Existem, também, acções adicionais que podem ser realizadas, pagando. O objectivo do jogo é deixar de ter peças no tabuleiro individual e tal poderá ser conseguido movendo-as para localizações específicas ou realizando acções de eliminação.

Apesar de não ter nada de extremamente inovador em termos de mecanismos, é um jogo bastante equilibrado, com um visual agradável e acessível a novos jogadores e em família, que tem o seu factor “WoW” na estrutura onde se vão colocando as pedras (que resumidamente, serve para indicar quando se irão adicionar novas pedras ao tabuleiro, fazendo rodar o dado que indica onde as colocar).

Após este grupo de jogos mais familiares, em que se destacou Mycelia como candidato a tardes em família (que adquirimos rapidamente), optamos por pegar num dos mais clássicos Dungeon Crawlers – Clank!. Trata-se de um jogo que já tinha experimentado há alguns anos, mas que o meu marido não tinha tido oportunidade.

Trata-se de um jogo de construção de baralho onde usamos as cartas para realizar as diversas acções. Cada carta fornece um determinado número de pontos com objectivos diferentes – movimento, aquisição ou batalha. Em termos de tema, cada jogador é um ladrão que se aventura na montanha do dragão para lhe roubar tesouros – mas deve fazê-lo com calma, ou o barulho acorda o monstro que os frita a todos. Pelo caminho, vai encontrar pequenos monstros, recrutar guerreiros para o ajudarem e captar tesouros, havendo o objectivo de se conseguir sair vivo da montanha.

Em termos de tema e concepção, Clank! cumpre todas as expectativas, apresentando cartas diversas com poderes diferentes e um labirinto onde nos devemos movimentar. Para além de construção de baralho, o jogo possui mecanismos de movimento de um ponto ao outro ou de tentar a sorte (push your luck) existindo um saco onde colocamos os cubos correspondentes ao barulho, fazendo com que, ao longo do jogo, a probabilidade de acordar o dragão seja maior.

Entre os jogos mais recentes, Art Society e Knarr eram dois que queria experimentar. O primeiro é jogo de até quatro jogadores onde cada um tem como objectivo colocar os quadros no seu tabuleiro pessoal, por forma a possuir com conjunto mais valioso do que o dos outros jogadores. Para tal, deve adquirir os quadros através de leilão, e adicioná-los ao seu tabuleiro.

Em cada ronda existirá mais um quadro do que jogadores em leilão, e o leilão decide a ordem com que cada jogador escolhe o seu quadro. O quadro não escolhido servirá para aumentar o valor desse tipo de quadro (havendo quatro tipos identificados pelas quatro cores primárias. Caso consiga juntar quadros de moldura igual, recebe peças com pontos bónus para adicionar ao tabuleiro. Mas deverá ter atenção, para não colocar quadros do mesmo tipo juntos.

Art Society é um jogo que se destaca pela qualidade dos acabamentos, com um interior aveludado e quadros em baixo relevo na capa. O mecanismo de aquisição dos quadros também é curioso. Após o ter jogado algumas vezes com diferente número de jogadores, acrescendo que terá dois defeitos fundamentais: o tempo de jogo (por vezes alonga-se um pouco de mais) e a facilidade com que se dá um toque no tabuleiro de jogador e tudo sai do sítio. O jogo deverá ser lançado este ano pela Devir em Portugal – entretanto, antes de o saber, entusiasmada com a experiência na Leiriacon, também já o adquirimos.

Na temática dos Vikings, sempre muito em voga, Knarr é um jogo de complexidade média baixa. Neste jogo, cada um vai contratando vikings para a sua expedição ou vai explorando novas localizações. Na prática, a contratação traduz-se por baixar uma das suas cartas de viking. Cada carta que se baixa fornece um bónus diferente e todas as cartas da mesma cor são activadas, fornecendo os seus respectivos bónus.

Para a exploração de novos localizações, o jogador deve trocar grupos de cartas viking por uma carta de localização que deve ser adicionada à sua área de jogo. Estas cartas de localização podem ser activadas para fornecerem mais bónus ou pontos. É um jogo de jogadas rápidas, que permite diferentes estratégias, consoante o tipo de bónus em que se investe. É relativamente leve e fluído, quer a dois, quer a quatro jogadores.

Cat in the box ou Gato na Caixa proporcionou uma das melhores surpresas desta convenção. Apesar de ser um jogo pequeno, de vazas, em termos de tema e de execução é suficientemente diferente e inovador para ser uma aquisição fundamental. Pelo menos para nós. Em Cat in the box as cartas não possuem indicação do naipe a que pertencem, devendo o jogador declarar o naipe da carta que jogou.

O jogo complica-se porque existem mais cartas de cada número do que naipes, podendo chegar-se à situação em que um jogador não consegue declarar nenhum naipe para as cartas que tem na mão, entrando em paradoxo. O gato do jogo é uma alusão ao gato de Schrödinger.

Num tom completamente diferente, Fyfe é um jogo abstracto no qual vamos retirando peças de um saco para popular a nossa pool de peças. O jogador escolhe uma das suas peças para adicionar ao tabuleiro, devendo, também, ir adicionando peças de objectivo nas diversas direcções. Estas peças objectivo indicarão que combinações devemos ter em cada coluna ou linha para pontuarmos. Ainda que o princípio seja interessante, não foi um jogo que nos tenha entusiasmado, mantendo a mesma sensação ao longo de todo o jogo, e tirando a frustração de existirem peças que não entraram em jogo, não se sente o crescente de tensão típico da concretização de uma estratégia.

Eu sei que Villanious não é um jogo novo, mas é daqueles cuja premissa sempre me tinha atraído. Trata-se de um jogo assimétrico, em que cada jogador assume uma personagem diferente da Disney. Bem, não apenas uma personagem, mas um vilão! Entre os acabamentos visuais e os detalhes das acções, é um jogo muito bem conseguido na perspectiva da temática que adorámos. Agora só resta saber se virá uma edição em português, para o podermos jogar em família.

Um dos jogos de que mais se ouvia falar na altura da Leiriacon era o Faraway, pelo que assim que o apanhámos disponível, jogámos. Confesso que achámos simplista demais e que o factor novidade não nos impressionou o suficiente para o adquirirmos.

Lobos (que também não é dos mais recentes) foi uma das grandes surpresas. É um jogo um pouco mais complexo e estratégico, o que vai de encontro às minhas preferências, mas que tem uma forte componente temática, fazendo com que rapidamente, com a ajuda de uma pequena carta de suporte, se consiga jogar com a mínima consulta de regras.

O jogo simula as alcateias, sendo que cada jogador possui uma que é mais forte num tipo de terreno diferente. Lobos combina controlo de área com movimentos no tabuleiro, adaptando-se ao número de jogadores (quer com um mapa diferente, quer pelo despoletar das fases de pontuação).

Terminámos o evento com um jogo abstracto a quatro jogadores – Nebula. Neste jogo, cada jogador tem um tabuleiro individual onde deverá colocar as estrelas que recolhe de um tabuleiro central. O jogo tem modo simplificado e avançado, sendo que para uma primeira experiência optámos pelo mais simples. Existem objectivos privados e públicos, bem como um tabuleiro próprio para objectivos adicionais no modo avançado. O jogo combina mecanismos como construção de padrões, com o estabelecimento de ligações e cobertura de grelha.

Esta Leiriacon deu para experimentar diversos jogos simples, e alguns, poucos, mais complexos. Optámos por experimentar vários jogos que pensávamos adquirir, sobretudo abstractos ou jogos mais portáteis devido à falta de espaço cá em casa. Ficámos fascinados com a facilidade com que se entra em Lobos apesar da sua complexidade. ou com o conceito de Gato na Caixa. Villainous é uma boa opção para envolver jogadores mais novos e Knarr, apesar de ser um jogo simples, é uma boa opção de viagem.

Mas também aproveitámos para trazer jogos mais complexos como The White Castle ou Planta Nubo que experimentaremos com mais tempo e paciência para regras cá por casa. E escusado será dizer que nos desgraçámos na venda de jogos em segunda mão.