Contos de S. Petersburgo é um conjunto de seis histórias, quase todas de decadência, onde algum acontecimento peculiar altera a vida de alguém de forma surreal, tornando-a um pesadelo. Quase todas começam com a descrição detalhada do espaço e das pessoas em que se centram, passando apenas depois desta descrição à acção propriamente dita onde estes detalhes são já desnecessários e os acontecimentos carecem de pouco contexto.
Numa movimentada praça central um homem cruza-se com uma mulher lindíssima que o leva aos mais fantasiosos episódios – alguns deles serão sonhos onde imagina esta senhora como um anjo caído em desgraça. O conto ganha o nome da praça onde se inicia, Nevksy Prospekt.
Já em O Diário de um Louco vamos conhecendo as deambulações mentais de um funcionário que é apaixonado pela filha do chefe. Pela história vai engendrando formas de ganhar a admiração da jovem, cada vez mais envolvidas pela miragem de uma loucura que se aprofunda – ora troca correspondência com a cadela, ora se imagina o herdeiro do trono espanhol.
O terceiro conto, O Nariz, é decerto um dos mais famosos do conjunto, e a história que me levou a pegar mais rapidamente no livro, depois de lhe ver referência em Dois Anos, oito meses e vinte e oito dias de Salman Rushdie. Um homem acorda sem nariz – em seu lugar um espaço de pele lisa permanece no rosto. Envergonhado e não podendo assim ser visto por gente importante, procura o nariz que deambula sozinho, livre, pela cidade.
Em O Coche um fazendeiro, já de algumas posses, enaltece as qualidades de um coche a companheiros de jogo e bebida, uns militares que permanecem na região. Prometendo-lhes um almoço no dia seguinte para lhes mostrar a riqueza de tal transporte, esquece-se de avisar a esposa quando chega de madrugada, demasiado bêbado. O resultado é previsível mas nem por isso deixa de ser cómico.
O retrato é um dos contos do conjunto que se apresenta de estrutura quase tradicional, recordando os contos onde o dinheiro fácil fornecido pelo Diabo tem um preço. Aqui, ainda que o dinheiro não venha do Diabo, tem um poder de corromper quem dele usufrui. Um jovem e talentoso artista descobre, num quadro sombrio e assombrado uma avultada soma que lhe permitirá viver desafogado. Mas ao invés de aproveitar para aprofundar os seus talentos, começa a vender-se como retratista a metro.
Em O capote conhecemos o triste mas expectável destino de um homem que, pobre, amealha para o próximo agasalho de verão, fazendo dessa aquisição um grande projecto com o alfaiate. Mal sabe que este projecto há-de sofrer uma reviravolta atirando-o para a desgraça.
Este excelente conjunto de contos cruza o absurdo e o surreal com o mundano, levando as personagens a situações bizarras ou ridículas de onde se tentam salvar mantendo a honra e a compostura, enquanto a loucura os assombra – seja a loucura enquanto doença psicológica de engrandecimento pessoal, seja a loucura fruto dos desgostos e desapontamentos da vida.

…Nossa…adorei, parece ótimo! Seu blog está super bem escrito, parabéns!!!
Gostei das informações que estão aqui presentes.
Muito obrigado !
Ajudou muito. ..