Cyberabad Days é uma colectânea de 7 histórias que decorrem no mesmo futuro que River of Gods – India, 2047. A India com que nos deparamos não é um país, mas uma série de regiões autónomas que disputam entre si os recursos disponíveis, principalmente água.
A tecnologia evoluiu o suficiente para que as entidades artificiais demasiado inteligentes constituam uma ameaça à humanidade, e a manipulação genética dos descendentes é uma constante natural que originou seres mais inteligentes ou mais perfeitos, assim como uma enorme discrepância entre o número de homens e mulheres, cerca de 3:1.
Os primeiros contos, Sanjeev and Robotwallah e Kyle Meets the River são histórias quase banais e pouco relevantes. O primeiro explora a devastação pela guerra, o fascínio pela robótica incutido num jovem, e questiona o futuro dos jovens rapazes, que fizeram parte dos ataques. O segundo é a história de dois rapazes que em circunstâncias diferentes nunca poderiam ter-se tornado amigos.
O conto seguinte, The Dust Assassin já é algo diferente, mais original e cativante. Uma jovem cuja família foi massacrada numa guerra entre poderosos clãs, cresce com a orientação de um Nute (ser humano que abdicou de qualquer estrutura sexual ou característica que revele o seu género), obcecada em matar o único sobrevivente da família rival, como resultado de uma frase proferida diariamente pelo pai “Tu és uma arma”.
Em An Eligle Boy explora-se a dificuldade de arranjar uma noiva face à elevada percentagem de homens na população – cerca de 75%. Mudança de visual, aulas de tango ou de conversação – Jabir experimenta várias técnicas que o possam tornar mais atraente ao sexo oposto, mas o seu orientador é a inteligência artificial responsável pelo desenvolvimento da principal novela televisiva nacional, o que irá trazer imprevistos aos seus planos.
Segue-se The Little Goddess, história nomeada para o prémio Nebula, que retrata uma criança escolhida para ser a encarnação da deusa. Mas tal estatuto será retirado assim que a criança verter uma gota de sangue. Como criança deusa tornada mulher comum descobre que é difícil encontrar o seu lugar no mundo.
A penúltima história é Djinn’s Wife, vencedora do BSFA. Esha é uma excelente dançarina que nunca passou de pequena celebridade local, mas a sua dança irá atrair e apaixonar Rao, uma entidade artificial de elevada inteligência. Esta paixão nunca poderá no entanto, ser verdadeiramente consumada.
Finalmente, em Vishnu at the Cat Circus acompanhamos a vida de um Brahmin, uma pessoa geneticamente modificada de forma a ter uma longevidade mais longa do que o normal. Mas o seu desenvolvimento físico é muito mais lento do que o das restantes pessoas, o que significa que a mente de um rapaz de 18 anos irá ficar aprisionado num corpo de 9. Os anos passam e Vishnu assiste a mudanças drásticas na humanidade.
Excepto pelos dois primeiros contos, quase banais, o conjunto é excepcional, com histórias coesas, bem construídas e desenvolvidas. No geral predominam os sentimentos de melancolia e tristeza, intercalados por um retrato pessimista do futuro da humanidade – reina um género de decadência moral que origina a solidão nos seres humanos retratados. Concluindo, esta é uma antologia recomendável a todos que apreciaram River of Gods, mas que poderá ser lida independentemente.