Para os mais distraídos este é o último livro de Afonso Cruz, o autor que nos surpreendeu recentemente com A Enciclopédia da Estória Universal ou Os livros que devoraram o meu Pai, o primeiro sem dúvida entre os melhores livros que li este ano.
A Boneca de Kokoscha é bem distinto destes dois: se em A Enciclopédia da Estória Universal podemos encontrar uma enciclopédia de referências ficcionais que envolvem pedaços reais, ou em Os livros que devoraram o meu Pai conhecemos a história de um rapaz cujo pai se terá embrenhado demasiado na leitura, acabando dentro dos livros; em A Boneca de Kokoschka apresenta-se uma história maior que as suas partes, composta por histórias mais pequenas que se cruzam de formas distintas.
O livro começa com a morte de um rapaz por um soldado, que cai sobre o pé do parceiro de bola Isaac. Este, assustado, foge e acaba por se esconder num esconderijo na loja de Bonifaz Vogel, que deve imenso à inteligência. Desconhecendo a existência do esconderijo, Bonifaz começa a ouvir uma voz que o aconselha nos negócios, sem nunca questionar a origem dos conselhos.
Mais tarde, quando a cidade de Dresden é bombardeada, Bonifaz surpreende-se ao ver Isaac ao sair do esconderijo, e fogem juntos. Na fuga encontram uma rapariga, Tsilia, outra sobrevivente do bombardeamento e os três prosseguem juntos. Sem nunca abandonar Bonifaz, que vai degenerando mentalmente, Isaac junta-se a Tsilia. O seu andar ficará sempre marcado pelo arrastar de uma perna, provocado não por uma lesão, mas pelo peso da cabeça do amigo.
No início do livro foi-me difícil embrenhar no texto, em parte por causa da forma como está exposto. No entanto, com a progressão, a história deixa a aparente simplicidade inicial da forma e do conteúdo, e vai envolvendo o leitor no enredo. Uma história linear torna-se um labirinto de acontecimentos, que vão ganhando volume com as diferentes perspectivas.
Partindo de uma narração simples, a história ramifica-se e são-nos apresentadas histórias de amor quebradas, homens avarentos, esposas ciumentas e famílias desconexas assim como personagens de mentalidade simples e bondosa. Tudo isto envolto numa aura de quase inocência. No final, gostei.
Não consegui gostar do “A Enciclopédia da História Universal “. Aliás, não passei do meio do livro (pode ser que recomece um dia destes), pelo que este também não me entusiasma….
Bem, este tem muito pouco a ver com A Enciclopédia :). Já agora, gostas de Borges ou ZIvkovic ?
Nunca li Borges. Uma lacuna! Eu sei 🙂
Em relação ao Zivkovic, apenas li a Biblioteca (o único traduzido até ao momento). Considero-o um livro incontornável na área da fantasia.
Aliás, faço uma ressalva; Li o “História universal da infâmia”. Mas não lhe achei muita piada. Sendo um livro de crónicas, creio que lhe faltará aquilo a que chamaram “Realismo Mágico”……….