Vencedora do prémio Somerset Maugham, Angela Carter foi, não apenas escritora, mas também jornalista, tornando-se conhecida tanto pelas obras feministas, como pelos livros enquadrados nos géneros da Ficção Científica e do Realismo Mágico. Após diversas referências a livros de Angela Carter, peguei no primeiro que me apareceu à frente – Heroes and Villains.
O início era auspicioso. Num mundo pós-apocalíptico a humanidade sobrevive fragmentada em três grupos principais: aqueles que vivem em povoações armadas e vigiadas, os grupos nómadas e os selvagens. Nas povoações armadas co-existem três classes, a dos trabalhadoras, a dos professores e a dos guerreiros. Enquanto a primeira garante o sustento da povoação, a segunda ocupa-se da manutenção e transmissão do conhecimento, e a terceira defende a vila.
Mas nem todos os humanos foram sortudos o suficiente para nascerem numa povoação. Os nómadas, bárbaros incultos, subsistem como parasitas, reunindo grupos de ataque às vilas para obter os bens processados como as farinhas ou os tecidos. Por último, existem ainda os selvagens, seres que parecem ter perdido qualquer semelhança com a restante humanidade, caçando com a ajuda de setas envenenadas.
Marianne é a filha mais nova de um professor de literatura, que se revela incapaz de estabelecer laços com as restantes crianças. Na realidade, a sua única ligação é para com o pai, demonstrando uma enorme apatia à morte do irmão num ataque bárbaro, e posteriormente da mãe, de desgosto. De vez em quando foge da vila para explorar os arredores e um dia observa, escondida um grupo nómada, reparando na pobreza em que vivem. Nesse mesmo dia a ama idosa, já demente, mata o pai. Sem nada que a prenda à povoação, após uma incursão dos nómadas, ajuda um guerreiro a escapar da vila, fugindo com ele.
Os nómadas, supersticiosos e analfabetos, são controlados pelo mago que exercita os seus conhecimentos científicos assim como várias teorias sociais. O jovem que Marianne salvou, por sua vez, é uma espécie de príncipe, cujos comportamentos oscilam entre os de bárbaro e as boas maneiras de um rapaz letrado. E aqui a história descamba. Se a combinação de todos estes elementos se poderia tornar interessante, resvala para um mau romance entre a menina mimada que se torna Marianne, e o bárbaro que se revela tudo menos uma personagem coerente.
A história torna-se um vaivém de humores românticos com lugar para a indiferença fingida e para a frustração causada pela falta de comunicação: uma alegoria à vida conjugal de muitos com lugar até para a sogra. O enredo inicial desmancha-se para se tornar um palco sem importância, abandonado pelas personagens que desenvolvem um relacionamento caótico. Este foi, para mim, mais um daqueles exemplos de uma excelente ideia mal aproveitada.
Adoro Angela Carter. O Quarto do Barba Azul é meu livro favorito.
🙂 eu devo andar a escolher mal os livros para pegar em novos autores. Foi o do Charles de Lint e foi este. Bah.
lê o The Bloody Chamber, que são contos a subverter as histórias “da carochinha”. Muito bom.
Obrigada pela dica ! A ver se… mas não nos próximos tempos :S