Tal como a maioria dos livros publicados PS Pulishing, este é um volume assinado, de aspecto cuidado, com introdução de Elizabeth Hand, autora de Illyria ou Bibliomancy. que contem 12 histórias fantásticas de Paul Witcover, a tender para o horror.

O primeiro conto, Mayaland, é um dos mais fracos do conjunto, seguindo um turista que é convidado por um índio de origem maia, a visitar a sua vila. Aqui, é-lhe mostrado o local sagrado onde decorriam os ritos maias. Previsível e banal, são as palavras escolhidas para o descrever. Felizmente o conto seguinte, Twilight of the Dogs, é melhor ainda que não espectacular: com detalhes sobrenaturais centra-se num rapaz, Jon, a quem foi negada a possibilidade de incorporar o exército como voluntário, a fim de proteger a família durante a Guerra Civil. Quando a cidade é bombardeada, a mãe e as irmãs fogem para a Igreja, deixando a avô a cargo de Jon. Senil, não obedece aos pedidos de Jon para se apressar, permanecendo no sofá, até que uma bomba rebenta com a parede da sala. Jon sobrevive, mas depara-se com uma matilha de cães raivosos.

Depois da história de uma criança disforme e atrasada que vive num circo, mas possui o dom da vidência (Red Shift) e de um rapaz que explora, durante as férias um farol abandonado onde descobre um capitão sem barco, louco que o confunde com o imediato (Lighthouse Summer), surge um conto excelente: Everland. Distorção da história de Peter Pan, acompanhamos Wendy que abandona sozinha o mundo real atrás de Peter Pan, voando até à Terra do Nunca. Chegados ao seu destino, Wendy é aprisionado, e a sua vida vale pela capacidade de lhes contar histórias todas as noites, ficando responsável pela lida da casa durante o dia, altura em que os rapazes travam uma estranha batalha. É também, durante o dia, que um dos rapazes mais velhos aproveita a ausência dos restantes para abusar de Wendy.

Em The Cats of Thermidor um rapaz muda-se para Paris para estudar, no ano em que a cidade é palco de vários atentados. Após ser arranhado pelo gato da vizinha, conhece-a e apaixona-se, mas desde logo este é um relacionamento sombrio. Moonlight becomes magenta apresenta-nos o filho de um homem que abandonou a vila para incorporar as guerrilhas, tornando-se vítima de um sistema ditatorial. O rapaz, Pablito cresce ouvindo os planos de vingança do seu avô, cego. Noutra história, um homem, Felix muda de casa, mas vários acontecimentos revelam que esta não terá sido uma boa escolha – todas as noites a campainha procura intermitentemente, quando um vagabundo o questiona sobre um objecto que terá pertencido à anterior dona da casa.

Left of the Dial é o último conto do conjunto, em que John, um geek típico, retorna à terra natal para assistir aos últimos dias da mãe. Após o funeral, decide passear, durante a noite, pelos trilhos da floresta que percorria de bicicleta durante a adolescência, e é com surpresa que encontra Lis, uma amiga, a rapariga que causou a separação do grupo de John, ao trair o namorado com um dos melhores amigos. Estranho e sombrio esta é a segunda história surpreendente do conjunto.

Sem lugar para pontas soltas ou episódios irrelevantes, a maioria das histórias em Everland and Other Stories lêem-se bem, ainda que não as tenha achado excepcionais. O destaque irá mesmo para a história que dá nome ao livro, Everland e para Left of the Dial. Apresentando elementos fantásticos ou sobrenaturais, são estas as duas histórias que se destacam não só pela caracterização das personagens, como pelo desenrolar dos acontecimentos. Ainda que tendo por base uma história infantil, Everland é adulto e chocante: a história que conhecemos sob uma outra perspectiva. Em Left of the Dial, finalista do prémio Nebula, vemos como as amizades da adolescência se transformam e marcam a fase adulta de quatro indivíduos. No final, fica a ideia de várias histórias banais, bem escritas mas pouco marcantes, e de apenas duas que valem pelo conjunto.