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The Strange Library é uma das obras mais recentes de Haruki Murakami, uma novela que, à semelhança de Os Assaltos à Padaria, usa aspectos gráficos para dar maior ênfase a alguns episódios da história. Mas se, em Os Assaltos à Padaria, as imagens permaneciam separadas do texto, neste volume elas contêm, ou são contidas pelo texto, numa interacção proveitosa para o leitor.

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A história pode ser enquadrada no horror juvenil, apresentando um rapaz curioso que, questionando-se como se faria a colecta de impostos no Império Otomano, se dirige à biblioteca para requisitar alguns livros que o elucidem. Na recepção é atendido por uma funcionária mentalmente ausente que lhe indica uma porta que desconhecia.

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Por detrás da porta existe um velhote que, prontamente, encontra três grossos e velhos volumes sobre a recolha de impostos, de vários pontos de vista. Mas estes volumes só podem ser lidos na biblioteca, que está quase a fechar. Ainda que curioso, o rapaz sente alguma reticência em permanecer na biblioteca após o horário de fecho.

A custo, lá é convencido pelo velhote, a consultar os livros ainda naquele dia. O rapaz lá segue o homem, por corredores negros, através de um labirinto que tem, no final, uma jaula. Lá deverá permanecer durante o período de um mês, para decorar os grossos volumes. Caso falhe na tarefa, os seus miolos serão devorados pelo velhote.

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Durante o encarceramento é visitado por um homem, que, a medo do velhote, lhe traz comida e garante a prisão. De vez em quando aparece, também, uma jovem rapariga, uma visitante de um mundo paralelo que pensa, com ele, escapar daquele estranho e fantástico espaço.

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Visualmente estimulante, a curta história deste volume possui diversos elementos de horror fantástico pouco usuais – descrições de pequenos castigos que se tornam horrores mais pelo que se imagina do que propriamente pelo que encontramos descrito.Não que sejam castigos muito pesados, mas é arrepiante imaginar que nos fecham num frasco cheio de lagartas peludas.

Sombria, esta pequena novela consegue ter algumas reviravoltas desagradáveis em que, sem acontecer nada de explicitamente horroroso, faz perceber que alguma coisa espreita para sempre nas trevas, conferindo inquietude ao final que é muito menos pacífico do que pode parecer.