Tempestade é o segundo volume da trilogia iniciada com Ceifador. A trilogia decorre num futuro onde a humanidade já conseguiu eliminar as doenças, e expandir a vida humana por limites inimagináveis. Ainda que as tentativas de propagar a espécie humana por outros planetas tenha fracassado, os seres humanos são praticamente imortais com excepção de dois factores: existem mortes que não possibilitam a recuperação do corpo (como morte por ácido, fogo ou comidos por animais), ou mortes exercidas por ceifadores, uma profissão temida naquela sociedade.

A narrativa centra-se nos ceifadores, mais concretamente em dois jovens que são seleccionados, a contragosto para serem ceifadores. No primeiro volume eles encontram-se em formação, existindo vários factores que transformam, de forma inusitada, o seu treino. Só um se tornará ceifador. É aqui que o segundo volume começa, mostrando como aquela realidade humana está em crise. Os ceifadores, um grupo que deveria cingir-se à simplicidade num conjunto de regras bastante específico, são ameaçados por pressões internas, existindo um grupo que pretende deitar fora as regras e agir de forma mais impetuosa. Até porque a profissão de ceifador parece ter atraído alguns psicopatas.

Para além dos factores que se apresentavam no primeiro livro, a narrativa em Tempestade alterna, também, com a perspectiva da inteligência artificial que controla praticamente tudo no mundo humano – não controla os ceifadores. Mas ainda que esteja limitada por comandos muito específicos em relação aos ceifadores, não quer dizer que não tente, de alguma forma, agir e influenciar, usando uma pessoa em concreto como agente.

A narrativa alterna sobretudo entre a perspectiva dos dois jovens (que levam existências bastante diferentes) com partes bem colocadas da IA, mostrando como o grupo de Ceifadores se corrompeu, ainda que existam alguns que se mantém virtuosos e sérios. Infelizmente, o grupo oposto, tem uma vantagem, não hesitando em perpetuar as mais bizarras acções para vencer. Veremos como prossegue o terceiro volume.

Não apresentando um mundo excepcional, nota-se uma maior preocupação, neste segundo volume, em explicar a ciência associada à sociedade existente – tanto a forma como se recupera de praticamente qualquer morte (excepto as citadas acima), como os motivos pelos quais a exploração do espaço falhou e está praticamente parada. O mundo que parece uma utopia também tem as suas falhas, e neste volume estas falhas vão ser bastante visíveis. Mesmo a IA que parecia simplesmente funcional e positiva, começa a apresentar alguns comportamentos estranhos, uma espécie de soberba divina.

Até agora, a trilogia é uma leitura recomendável. Apesar de se centrar em personagens jovens não cai nos grandes dramas adolescentes, colocando-lhes preocupações com as quais conseguimos empatizar como adultos. Existe alguma insegurança e, claro, hormonas, mas q.b.. Entre os conflitos dos ceifadores, as acções da IA e a profissão de ceifador em si, o resultado é uma leitura fluída, onde os vários elementos vão sendo bem doseados. Já o mundo criado, apesar de parecer mais impossível no primeiro volume, torna-se mais credível neste segundo, com o mostrar de pontos de falha.