The White Tiger foi a primeira obra do escritor indiano Aravid Adiga, e com ela ganhou o prestigiado Man Booker Prize de 2008. Não foi, no entanto, com este livro que me iniciei com este autor, antes com o segundo, Entre os Assassinatos, publicado recentemente pela Presença.
Entre os assassinatos não conta uma história, mas várias, que decorrem na vila de Kittur, entre o assassinato de Indira Gandhi (1984) e Rajiv Gandhi (1991). Com cada capítulo conhecemos uma personagem nova, de um estrato social ou religião diferente, dando uma ideia das várias facções que constituem o povo indiano. Não existe apenas uma estratificação baseada em castas, mas também estruturas à parte baseadas na religião – entre brâmanes, hoykas distinguem-se muçulmanos e jesuítas.
Antes de cada história podemos ler pequenos trechos introdutórios que nos apresentam o contexto social e histórico da cidade. A cada capítulo vamos conhecendo a vida de diferentes personagens: a vida de um rapaz muçulmano, que se inicia como um promissor empregado numa casa de chá e se transforma num ladrão e mendigo sem abrigo; ou a de um estudante num colégio jesuíta, resultante de um casamento entre um brâmane e uma hoyka, que por essa mistura sofre diariamente as consequências acabando por se revoltar contra a instituição escolar.
Conhecemos algumas personagens revoltadas com a vida que levam, de intenso e mal pago trabalho, outras que se conformam com as más condições de vida, e ainda, aquelas que se apercebem da realidade social e se revoltam contra as injustiças e a corrupção. Desta forma conhecemos um brilhante jornalista que se apercebe das mentiras por detrás dos relatórios da polícia e um empresário que se lamenta dos subornos que têm de distribuir para manter uma fábrica aberta, fábrica essa que ele próprio lamenta ter de manter em funcionamento por destruir pouco a pouco os olhos das bordadeiras.
Apesar de coincidirem em espaço e tempo, as histórias não se cruzam, são mosaicos de uma sociedade onde a origem e a religião ditam o destino de todos, elevando-os aos cargos elevados, ou mantendo-os em condições precárias, contra as quais não têm saída. A cada personagem vamos acompanhando uma realidade diferente, pela qual sentimos empatia, ainda que nos apercebamos que o rumo que a história segue dificilmente terminará de uma forma agradável. Ainda que não tenha ganho lugar entre os autores e livros favoritos, gostei das histórias curtas, principalmente por nos apresentar conceitos e princípios bastante díspares dos europeus.