Escritor e tradutor brasileiro, Fábio Fernandes é o autor de Os Dias da Peste, um livro de Ficção científica cyberpunk, publicado pela editora brasileira Tarja.
A personagem principal, Artur Mattos, divide o seu tempo entre o ensino e o concerto de computadores. Se o ensino não traz as alegrias esperadas e quase se resume a uma rotina, o mesmo não pode ser dito dos computadores, que de repente começam a avariar por toda a cidade.
Se antes as urgências se definiam apenas com o recurso a grau 1 e 2, torna-se agora necessário referir um terceiro grau para os computadores que apresentam, no monitor, frases absurdas e aleatórias como “Você não me vai desligar, seu filho da puta” ou “Não adianta, babaca. O efeito é gestáltico”. Algumas destas frases possuem ligação com o dia-a-dia dos usuários e a única solução é drástica: trocar a motherboard e formatar o disco rígido.
Aquilo que se pensa tratar de um vírus informático que infecta os computadores, revela-se antes o despertar de várias inteligências artificiais por todo o planeta. Artur tem um papel fulcral neste desenvolvimento, fornecendo, ao seu computador, a informação necessária para o seu despertar. Por outro lado, vai relatando, num blog, as várias fases do aparecimento destas inteligências artificiais, testemunho esse que constitui o livro.
Em rodapé podemos encontrar várias notas relativas a expressões ou referências de Artur, notações que para nós, leitor do século XXI são desnecessárias, mas não o são para quem terá compilado o livro. Desta forma, Arthur C. Clarke aparece referenciado como “Ser Clarke, Hipermestre Grau 12 do Panteão Terrestre De Consciências Downloadas”, e expressões como traduzi na lata, possuem uma nota como “Referência não encontrada. Nesse ano da Era Humana era frequente o uso de diversos mídias simultâneas para criação e armazenamento de dados escritos e cadernos (…) Não há registo do uso de latas”.
Para além das notas de rodapé que ajudam a localizar a história numa sequência de importantes acontecimentos, podemos encontrar várias referências a livros de ficção científica que referenciam a personagem, como 2010 Odisseia no Espaço, A Máquina do Tempo, Do Androids Dream of Electric Sheep ou Old’s Man War.
Em suma, gostei do ambiente que rodeia Artur, uma sociedade actual caracterizada pela intensa exposição à tecnologia, onde existe lugar para a ficção científica. Ainda que a forma como a história nos é apresentada seja interessante, senti, no terço final do livro, que alguns episódios se pareciam desprender da narrativa, factor que me levou a considerar Os Dias da Peste um boa história, mas não excelente.
Para os interessados, no site da editora foi disponibilizado um pequeno excerto do livro.
Cristina, muito obrigado pelo comentário. Fico feliz que tenha lido – e espero que a segunda parte, Os Anos de Silício (a ser publicada no segundo semestre de 2010) venha a preencher as lacunas dos episódios do terço final – é minha intenção.
Cá fico à espera da segunda parte ! 🙂