
Apesar do título e de estarmos a viver uma pandemia em que o tema da vacina é um assunto quente, este livro não trata directamente do COVID-19, mas da pandemia da varíola no início do século XX no Rio de Janeiro. Será que a história se repete?
A história
Com a morte do irmão, resta a Zelito tentar prosperar e fazer o pai orgulhoso. Convicto de tal possibilidade, faz uma aposta com o pai onde promete que em seis meses no Rio de Janeiro se tornará num artista famoso e digno do orgulho familiar. Rumando à grande cidade, descobre uma existência bastante diferente da imaginada. Sem rendimentos, sem contactos e sem o nível de desenho necessário, Zelito consegue finalmente um emprego como ajudante num jornal, achando que desta forma ganhará a visibilidade de que necessita.
Paralelamente, no Rio de Janeiro, existe uma pandemia de varíola que não parece desacelerar, com vários mortos. As autoridades tentam impor a vacina como forma de controlo, obrigando à apresentação do comprovativo para a matrícula nas escolas, obtenção de empregos, entre outros. Esta obrigatoriedade gera receios crescentes, que se vão tornando em revolta popular, principalmente quando alguns tentam usar estes receios em vantagem de uma agenda política.
Entre as aspirações pessoais e a pandemia, Zelito vai-se transformando numa personagem cada vez mais instável. O seu feitio orgulhoso e o temperamento fazem com que vá desperdiçando as poucas oportunidades que se lhe apresentam, ao procurar, de forma pouco adequada, algo mais.



Crítica
André Diniz usou personagens e factos históricos para criar uma narrativa que é muito actual. Um século depois da Revolta da Vacina podemos ver os mesmos debates e as mesmas preocupações, bem como uma semelhante manipulação social e política. A ignorância da população volta a ser usada para contrapor os benefícios da ciência, provocando mortes e doenças desnecessárias.
De forma a não apresentar apenas a Revolta da Vacina, a história é contada na perspectiva de uma personagem que se encontra no Rio de Janeiro na época. Isto permite, também, explorar outros conflitos mais pessoais. Esta personagem é, no entanto, conflituosa ou mesmo desagradável. Tem óbvios problemas em perceber o que é essencial num relacionamento e em progredir em termos pessoais e profissionais. Mas a forma em que nos é apresentada não origina empatia por parte do leitor.
Em termos visuais, A Revolta da Vacina apresenta o estilo habitual de André Diniz, a preto e branco, com personagens esquematizadas e sem grandes indicadores de localizadores de acção. Ainda assim, funciona bem com a narrativa.



Conclusão
Este trabalho de André Diniz confronta o passado com o presente, recordando que alguns eventos se repetem muitas décadas depois. Esta confrontação é, também, uma forma de falar da pandemia actual e de como é usada para fins políticos.
