
Eis um dos livros mais odiáveis dos últimos meses … ou anos! Não pela qualidade da escrita, mas pelo tema – nesta ficção, um grupo de homens sai de madrugada para caçar humanos. Neste caso, tratam-se de migrantes que se aventuram a atravessar a cerca furada da fronteira (uma armadilha) em busca de uma existência melhor. E é pela premissa, que nos revolta o estômago, que ganha a categoria de odiável.
Em Tropel o autor revela boas qualidades de escrita. Demonstra capacidade de manter um bom passo, com alguns episódios de acção e outros mais introspectivos enquanto segue a personagem principal, um jovem rapaz. Demonstra, também, capacidade de desenvolver personagens de forma competente, explorando conflitos internos, familiares e sociais. É uma leitura interessante, com várias perspectivas irónicas. O meu problema, ou o que me revoltou o estômago, foi, mesmo, a premissa central.
Na realidade ficcional construída por Manuel Jorge Marmelo, um grupo de homens acorda todos os dias de madrugada para caçar. Para além dos membros do grupo, poucos são os que sabem as intenções daqueles homens que saem de espingarda no ombro, caçando humanos com mais maldade do que animais.
A personagem principal, um jovem rapaz, descendente de uma linhagem de caçadores, vai revelando as suas actividades nocturnas com frieza e desprendimento. Eleva-se o interesse da nação, desumaniza-se o migrante, portador de vícios e doenças, consumidor de recursos alheios. Em contrapartida, apresenta-se o quotidiano do rapaz demonstrando-se que os selvagens são os que empunham as espingardas.
Os valores são, teoricamente, cristãos. Claro que dentro de casa quem manda é o homem , distribuindo tareias de levar à inconsciência. E como ninguém tem nada a ver com isso, até tem, para além da esposa, uma amante mais jovem (mas idiota) com quem partilha a cama e mais algumas lambadas.
A perspectiva é muito próxima da personagem principal, explorando os seus pensamentos e sentimentos. Revela-se uma mentalidade pouco questionadora, mais observadora, excepto quando tem de agir como esperado pelos que o rodeiam. A personagem principal até vai revelando, por vezes, alguma consciência, mas é insuficiente.
Tropel é visceral. O tom é sério, e as ironias são subtis. E é exactamente neste tom de seriedade, como quem está a contar uma história verdadeira (e repugnante) que se leva o leitor a sentir aversão ao livro. Apesar de considerar que é um bom livro com uma boa qualidade de escrita.
Esta história foi publicada pela Porto Editora.
Tive a mesma sensação com os livros “Murderland” de Garrett Cook e “Unger House Radicals” de Chris Kelso.
Concluo então que são livros para não incluir em futuras leituras…
São bons – sim. Mas de uma violência extrema. Temos de estar preparados para isso.
Se quiseres podes pesquisar aqui:
https://portaviii.barcelos.info/2014/04/25/murderland/