Guerra Mundial Z é um livro sobre zombies. Mas não se trata de uma história normal, ainda que apresente as típicas cenas estúpidas de perseguição com zombies. É antes uma compilação de relatos em torno da Guerra Mundial Zombies – relatos de todo o planeta, e de todas as esferas sociais.
Imaginem que uma estranha doença começa a assolar uma aldeia remota na China, uma doença que se propaga rapidamente através de dentadas de seres humanos, e que os transforma em predadores insensíveis, que apenas poderão ser mortos por destruição do cérebro. Até que a cabeça estoire, continuarão a arrastar-se, a grunhir enquanto abrem e fecham mandíbulas.
A doença, inicialmente descrita como raiva humana, estende-se em poucos dias por todo o mundo. Como resultado, alguns países fecham fronteiras como forma de impedir a entrada de seres humanos contaminados. Mas estas medidas de segurança não funcionam como seria de esperar, ora porque a onda de refugiados é incontrolável, ora porque a massa de mortos vivos é imparável.
Os relatos iniciais descrevem os primeiros casos. Se nos países de terceiro mundo a fuga entre as barracas e ruelas estreitas é quase impossível, nos países ditos civilizados a verdade é ocultada pelos meios de comunicação social, como forma de impedir a queda do mercado, enquanto se comercializa uma vacina inútil. Desta forma, muitos cidadãos americanos apenas se apercebem da realidade quando um zombie parte os vidros e lhes entra em casa, grunhindo em busca de carne fresca.
De sangue negro viscoso, sem instintos de auto-preservação, chamam os restantes para a caçada após avistarem uma presa, o que provoca crescentes multidões de seres estúpidos mas perseverantes, que vão ganhando território, não só em terra, mas debaixo de água.
Ainda que existam alguns relatos de fuga e morte, temos a oportunidade de ler entrevistas a proeminentes políticos que explicam as medidas adoptadas (ou porque não adoptaram nenhumas), entre elas o abandono de populações para salvar meia dúzia de protegidos. No seguimento destas medidas percepcionamos dois grupos no exército: aqueles que seguiram cegamente ordens abandonando as populações, e aqueles que se rebelaram ou desertaram para conseguir salvar os familiares, ou os grupos que protegem.
A guerra não nos apresenta apenas pelos olhos dos americanos, mas também dos europeus, indianos, africanos, asiático, em cidades, planaltos, montanhas ou até, no fundo do mar, onde se acumulam os zombies dos seres humanos que tentaram fugir a bordo de navios, e que, apesar de não respirarem, continuam activos, e a morder tudo o que se mexa. Temos, até, um relato dos acontecimentos a partir de uma estação espacial. Mas se, por um lado, os zombies ocupam a maioria do terreno, pequenos grupos resistentes de seres humanos não contaminados, começam a organizar-se, por tudo o mundo, e a estabelecer estratégias de guerra, que lhes permitirão começar a eliminar os zombies. Houve, claro, detalhes que gostaria de ter visto descritos, como por exemplo, as experiências efectuadas por cientistas aos espécimes e às amostras disponibilizadas.
Apesar de não ser excelente, Guerra Mundial Z baseia-se na exploração de uma boa ideia que distingue o livro de outras histórias de zombies: não se debruça sobre uma personagem ou grupo de personagens, antes sobre todo o planeta, tendo como objectivo apresentar os vários pontos de vista de uma hipotética guerra contra mortos-vivos, com exposição de argumentos demográficos, políticos e económicos. É por esta razão, um livro diferente que se consegue tornar até, fascinante.