
O Arquivista decorre na mesma realidade de outros volumes criados por Schuiten e Peeters que compõem As Cidades Obscuras, uma série de livros onde se apresenta um outro mundo, bastante semelhante ao nosso, com pontos de ligação obscuros. Se, em outros volumes como A Teoria do Grão de Areia ou A Febre de Urbicanda se parece explorar um fenómeno inexplicável com consequências na cidade, em O Arquivista acompanhamos um homem que pretende desenvolver a sua tese nas míticas cidades.
Tendo este objectivo em mente, O Arquivista reúne várias provas da existência destas cidades – provas que apresentam elementos ao longo de várias épocas, com elementos associados aos fenómenos explorados noutros livros da série. Esta exploração vem sustentar a relação imaginária entre As Cidades Obscuras e outras realidades – uma relação que muitos parecem discordar, negar e querer apagar.
Ao contrário de outros, este não é uma história de banda desenhada, antes uma história ilustrada. Nas páginas pares apresenta-se um curso texto que vai narrando os acontecimentos, enquanto que, nas páginas ímpares se apresentam as provas, sobretudo retratos da cidade e dos seus habitantes, remetendo para alguns cenários apresentados noutros livros da série.
O Arquivista é um volume curioso. É um volume que existe em cima dos anteriores, uma espécie de jogo borgiano que usa os limites da realidade para criar um mundo fantástico, quase possível, de construções imponentes e arrebatadoras, onde os autores podem dar azo à imaginação. Neste volume o jogo é consciente e propositado, como querendo deixar na mente do leitor a semente da dúvida da existência deste Universo. Sem dúvida uma boa leitura, mas que acho que será melhor apreciada por quem já conhece este Universo.