(esta é a segunda parte do comentário a Vaporpunk link para a parte I)

Jorge Candeias traz-nos Unidade em Chamas, onde explora as unidades militares que lutam nas passarolas. Com homens mais pequenos que as outras unidades militares (há que poupar o peso numa passarola), distinguem-se por os seus elementos poderem evoluir na carreira independentemente da sua origem social. O ambiente é de tensão, provocado pela aproximação da Guerra, e piorado pela descoberta da existência de outra base militar de passarolas nas colónias. Os preconceitos são imensos, e nem a camaradagem a bordo de uma passarola irá conseguir sarar completamente as diferenças raciais e culturais. Bastante diferente das restantes, é uma aventura bastante centrada no preconceito que nos apresenta as vantagens e desvantagens da utilização das passarolas nos confrontos militares.

A Extinção das Espécies de Carlos Orsi, é uma das histórias mais fantásticas do conjunto, explorando várias vertentes tecnológicas baseadas no vapor. Temos, assim, nanotecnologia, invenções frankensteinianas, utilização de energia solar – máquinas de construção e máquinas de destruição; tudo isto pelo mundo inteiro numa época em que estas tecnologias se apresentam inexplicáveis, suscitando medo nos que interagem com estas novidades.

Com uma vertente mais sobrenatural temos a história de Eric Novello, O Dia da Besta, uma aventura interessante que decorre num Brasil tecnologicamente desenvolvido, onde D. Pedro II terá direccionado o investimento para as ciências, descurando os luxos da corte. É no Jardim Botânico que se inicia a história, o mesmo local onde estará aprisionado um monstro de origem desconhecida, um ser estranho praticamente invencível.  Esta é uma aventura engraçada e envolvente que se distingue das restantes ao explorar o sobrenatural em simultâneo com as tecnologias a vapor.

A última história é a de João Ventura, O Sol é que alegra o dia, que se baseia num homem português que terá nascido nos finais do século XIX: o padre Himalaya. Este terá inventado um aparelho capaz de captar a energia solar, o Pyrheliophero (ou Pirelióforo), atingindo a temperatura de 3500ºC fundindo metais e rochas. Infelizmente, este mecanismo não terá sido aproveitada pelos grandes investidores, que se encontram mais interessados em explorar o petróleo ou o carvão.  A história apresenta-nos uma realidade alternativa a esta, onde as invenções de Padre Himalaya terão tido relevância na época, acabando por ser utilizadas na indústria automóvel, apesar das tentativas de sabotagem pelos exploradores do petróleo. Centrando-se na exploração desta realidade alternativa, O Sol é que Alegra o Dia, é uma história que nos leva a pensar: onde estaria a humanidade se todas estas ideias tivessem sido aproveitadas e não descuradas ?

Apresentando noveletas ao invés de contos, o que é pouco usual numa antologia, Vaporpunk apresenta-nos um conjunto de histórias diverso e excelente, onde se exploram várias vertentes do género. Temos monstros ao lado de invenções impensáveis, em histórias alternativas. A qualidade é bastante acima do normal, não me recordando de nenhuma história que tenha achado banal ou desinteressante.

Imagem para a capa de Vaporpunk por Erick Santos