
Estreei-me nos livros de Joe Abercrombie com Best Served Cold, um livro carregado de personagens maliciosas, desonestas e mortíferas, pelo que já sabia o que esperar em termos de humor negro, comentários sarcásticos e reviravoltas irónicas.
Talvez por se tratar de uma trilogia e não de um volume onde o autor pretende contar a história por completo, em The Blade Itself existe mais tempo para tempo para ir conhecendo as personagens: um inquisidor que terá sido vítima das torturas que agora pratica, um bárbaro feio e violento que vai sobrevivendo improvavelmente a vários ataques ou um jovem egoísta e narcisista que aspira a se tornar o próximo campeão.
Enquanto o reino é conduzido por um grupo de conselheiros sob a fachada de um rei mole e patético, o inquisidor serve os planos políticos do chefe da inquisição, prendendo comerciantes e obrigando-os a confessar crimes de traição. Antigo prisioneiro de guerra e torturado durante meses, sobreviveu com graves lesões físicas. São estas que lhe conferem os comentários amargos carregados de sarcasmo que constituem os momentos mais cómicos da história.
Apesar do caos político disfarçado que é a vida na capital, o aspirante a campeão apenas tem cabeça para as jovens, chegando a descurar os treinos por mais uma conquista. Algo muda quando conhece uma donzela, sem a fragilidade das meninas da corte. A atitude diferente da donzela poderá ser um factor atractivo, mas nada como o fruto proibido – a donzela é irmã do melhor amigo.
Longe de toda esta acção encontra-se Logen Ninefingers, um bárbaro que sobrevive mais uma vez, sozinho, a um ataque violento. Após várias semanas de fuga pelos bosques encontra um aprendiz do feiticeiro que o procura. O intuito da busca é desconhecido, mas vamo-nos apercebendo que os planos do feiticeiro envolvem todo o mundo.
Com ambiente medieval, tanto em tecnologia como em estrutura social, The Blade Itself não é uma história para pessoas sensíveis. Lutas violentas, descrições de torturas infindáveis ou corpos que simplesmente explodem, são apenas alguns dos episódios que podem chocar. Mesmo assim, a história não se torna tão negra quando se pode esperar. Ao longo destes momentos mais pesados vai existindo algum distanciamento criado pelo absurdo ou pelo irónico, e que tornam isto tudo inesperadamente divertido.
Em Portugal, o livro já se encontra publicado na colecção 1001 Mundos com o título A Lâmina.
