Publicado recentemente com o novo visual da SF Masterkworks, Arslan é daqueles livros sobre os quais, no final, não me consigo decidir se gostei. Passo a explicar.

Na realidade alternativa construída por Engh, durante os anos 70, um jovem general, líder do Turquistão (país imaginário), consegue, com a ajuda dos Russos subjugar todos os países do Mundo: Arslan. Jovem e destemido, Arslan comanda os seus exércitos através dos Estados Unidos da América, e pára numa típica vila do interior, mais precisamente na escola. Para além dos homens armados, o general pretende utilizar as crianças para manter na ordem a população, e manda organizar uma festa na própria escola. E é durante esta festa que Arslan mostra que a nada se proíbe, violando alegre e publicamente três crianças, uma delas um rapaz que manterá cativo: um espectáculo para as tropas que o seguem e adoram.

Ainda assim, Arslan é, acima de tudo, um homem carismático, que pretende, através do comando supremo, equilibrar a riqueza no mundo inteiro, instaurando, para isso, um regime de sustentabilidade. Terminam as viagens, as importações e exportações entre distritos e países. Excepto para as prostitutas que seguem as tropas. Com o fim das fontes de energia, passa a haver racionalização de electricidade, produzida por meios caseiros. Instaura-se uma ditadura, e como tal, o comando pelo medo, que Arslan sabe ir alimentando rotineiramente.

 A história é-nos contada pelo director da escola, Bond, que acaba por ajudar Arslan a dirigir o distrito, com o objectivo de minimizar os danos, e interpelar a favor dos restantes habitantes da vila. É na sua casa que o general acaba por residir, e Bond acaba por assistir a momentos surpreendentes de contraditória delicadeza, onde age de forma razoável e humana. Arlsan pode apresentar a curiosidade de uma criança e é dado a actos de extrema generosidade. Mas nem sempre o que oferece é querido pelos outros. Estes actos de aparente vulnerabilidade podem terminar abruptamente.

Ao longo da história vamos assistindo como o rapaz violando publicamente, e mantido refém no quarto do general, acaba por gostar de Arslan. Diria que não como amor, mas como fascínio por quem o subjuga e domina. Arslan dominou o rapaz, mas simultaneamente, vai-lhe apresentando provas de companheirismo com o objectivo de o tornar um “homem”, chegando a oferecer-lhe uma rapariga.

Ao contrário do que possa parecer, os momentos calmos dominam o livro, mas é uma falsa calma. Tal como os habitantes da vila americana, estamos sempre a pensar qual será o próximo acto de extrema crueldade. Aqui a violência é crua e dura. Não há ironias ou momentos cómicos, antes aflição e melancolia.  Foi, sem dúvida, uma história que chamou à minha atenção, e com momentos que gostei. No final, dado todo o enredo, fiquei com sentimentos contraditórios.