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Por Mundos Divergentes é uma pequena antologia publicada pela Editorial Divergência com cinco histórias distópicas. A primeira é da autoria de Ricardo Dias e retrata uma sociedade semelhante à de 1984. A personagem principal, Oliveira, trabalha uma fábrica e, como qualquer dos membros desta sociedade, tudo faz para não chamar à atenção das sentinelas, indivíduos que têm por objectivo investigar qualquer perturbação ou demonstração de espírito revolucionário.

Mas Oliveira não se consegue conter, e acaba por reagir violentamente às observações do obtuso colega Meireles, segundo as quais um chip, leitor de mentes, terá sido inventado e começará a ser inserido nos cérebros dos seres humanos para antever sementes de discórdia. Depois de chamado à atenção, é posto num turno dobrado, para lhe diminuir o tempo para pensar em temas menos próprios.

De ambiente tipicamente português, a história começa como um episódio comum em qualquer história distópica – a apresentação de um indivíduo que foge à normalização e adormecimento dos pensamentos, mantendo capacidade própria de raciocínio e crítica, e por isso mesmo um alvo potencial para os que pretendem controlar tudo e todos.

A dois terços a história sofre uma rápida reviravolta, quer em ambiente quer em acção, e somos confrontados repentinamente com uma forte corrente de informação que entorpece quer a personagem principal, quer o leitor.Se, por um lado, é esta reviravolta que torna o conto mais distinguível das histórias banais de sociedades distópicas, é também uma quebra em tom e ritmo que me distanciou enquanto leitora. Seria interessante ter assistido a um continuar da história inicial sem uma reviravolta tão carregada de informação tecnológica. Ainda assim, um conto interessante pelo enquadramento lusitano de um Big Brother universal.