Com uma capa simples e um desenho espalhafatoso (carregado e exagerado num estilo caricaturesco) a história deste volume oscila entre o fascínio do fantástico e o grosseiro da realidade – um contraste interessante que é usado como crítica social.

Em A História do Contador Eléctrico são cada vez menos as pessoas que vêem o canal de televisão. As sondagens indicam mínimos históricos e os produtores questionam-se que outro programa estará a atrair a população. Mas, na realidade, os espectadores não fogem para outros canais, nem sequer para a rádio ou a leitura – mas preferem assistir à transmissão de histórias da Lua!

O fascínio pelo fantástico traduz-se, nesta narrativa, pela opção de assistir ao contar de belas e originais histórias, que a Lua contará a um homem retido numa cama e alérgico à electricidade. Este homem será capaz de as transmitir aos restantes, fascinando grande parte da população que, desta forma, deixa para trás a televisão.

Já a grosseira realidade apresenta-se sob a forma capitalista, demonstrando a interacção entre o presidente da estação televisiva e os seus empregados, entre insultos e agressões. Os trabalhadores recebem estas humilhações com vistosas vénias, reconhecendo e enaltecendo o poder do presidente – uma figura caracterizada com aspecto de mafioso, agressivo e materialista que tem, como principal foco, o dinheiro.

As interacções são exageradas, tal como as posturas e expressões das personagens – caricaturas à interacção empresarial pelas quais se sente um óbvio e justificado asco. Nas reuniões grita-se e ofende-se, gerindo-se o poder com desrespeito.

Este ambiente contrasta com o do homem acamado, sem electricidade, vivendo numas águas furtadas simples. Este homem, que pouco tem que faça vista, é mais rico pelas amizades que mantém, apesar da sua má sorte.

Em termos narrativos a história é relativamente linear, de premissa simples, e desenvolvida de forma exagerada. Os dois lados da história contrastam pela postura e pelas expressões, aproveitando-se esta contraste para tecer comentários críticos nas várias reviravoltas irónicas. É uma leitura rápida e engraçada, que cumpre o papel lúdico sem ser espectacular.