Se me perguntarem se gosto da banda desenhada de autoria portuguesa, a minha resposta vai ser dúbia e deve-se sobretudo a dois factores que são constantes em quase todos os álbuns: a necessidade ou quase obrigação de tentarem desenvolver profundidade filosófica que nem sempre cai bem; e a demasiada centralização em uma ou duas ideias fantásticas que reduz a história.
Esta profundidade filosófica é sobretudo difícil de desenvolver em histórias curtas e se não é bem sucedida deixa-nos sem enredo. Claro que existem alguns álbuns que conseguem atingir o objectivo introspectivo em formato curto, e felizmente, para mim, existem alguns que acima de tudo, contam histórias como Dog Mendonça & Pizzaboy ou O Baile (que mesmo assim tem algum espaço para introspecção).
Fósseis das Almas Belas é um exemplo desta minha percepção perante álbuns de autoria portuguesa.Partindo de uma ideia simples, desenvolve todo o texto em redor, tendo pouco desenvolvimento de enredo que é quase acessório. A ideia em si é engraçada – as pedras polidas da praia seriam almas belas, a materialização de ideias que agora jazem esquecidas.
É esta a história que o pai conta à filha mais nova (e mais inocente) enquanto o mais velho ouve e goza pela credibilidade da irmã. Para explicar o rochedo maior o pai deambula por episódios da história portuguesa, centrando-se nos Descobrimentos. Estes episódios que se pretende apresentar em sequência lógica e justificativa não me convenceram, pois a sua sucessão e explicação não me parece totalmente coesa.
Sem cair no extremo da tentativa de filosofia máxima, e sem apresentar uma história concreta em nenhuma das narrações, possui um aspecto gráfico agradável e alguns episódios familiares engraçados que poderiam ter sido mais explorados para dar maior balanço ao álbum.


