
Este volume é uma adaptação do romance de Victor Hugo com o mesmo título. Claro que se trata de uma versão mais leve e mais curta, apesar de reter os momentos principais do romance. É, sobretudo, uma ordem marcante pelo grande destaque que dá ao acesso à justiça, centrando-se nas desigualdades sociais, enquanto explora uma trágica história de amor.

Neste romance um rapaz de cara deformada encontra, no meio da neve, sob um corpo de uma mulher falecida, uma bebé, cega. Crescidos a cargo de um artista, deambulam pelo país fazendo pequenas peças que lhes rendem alguns trocados, graças às feições deformadas do rapaz. Chegam finalmente a Londres, esperando glória, mas o que encontram é bastante diferente.

Apaixonados um pelo outro, mas incapazes de prosseguir para além do desejo – o rapaz sobretudo por vergonha das suas feições, apesar da rapariga ser cega. Acabam por se separar em Londres quando se descobre que o rapaz é um herdeiro perdido. Nesta descoberta, aproveita para explorar as novas possibilidades sociais, sem esquecer, totalmente, a jovem que salvou numa noite gelada.

A narrativa deste romance é bastante peculiar, apresentando vários níveis de estranheza. Por um lado o romance aproveita a nova posição do rapaz para tecer longos discursos sobre as desigualdades sociais e sobre o diferente acesso à justiça pelos várias camadas sociais. Obviamente quem tem dinheiro tece os resultados a seu favor, e quem não o tem sujeita-se a todas as desgraças.

Este volume é peculiar, também, em termos visuais. David Hine apresenta imagens fortes, quase uma caricatura, dando, simultaneamente, um ar de quase inocência ao duo de jovens. Realça-se o belo e o grotesco, sem que exista associação entre o bom e o belo.

Em termos narrativos, a adaptação possui trechos demasiado rápidos (sobretudo a partir do meio do livro) o que condiciona, parcialmente, a experiência de leitura. Ainda assim, a história é perceptível e aconselhável.