Com uma extensa obra quer na banda desenhada, quer na ficção especulativa, Mike Carey (que entrevistei há uns anos) ou M. R. Carey é o autor de uma série spin-off the Sandman (Lucifer), várias histórias de Hellblazer, bem como de outras séries fantásticas como The Unwritten, ou The Girl with All the Gifts bem como da adaptação do livro para cinema.

Neste Faker, Carey emparelha com Jock para criar uma história contida num volume, onde usa clichés das histórias de adolescentes / jovens adultos e os cruza com premissas de ficção científica. O resultado não é fantástico, mas entretém e tem momentos curiosos e originais.

A história começa por nos apresentar um grupo disfuncional de estudantes universitários. Uma das jovens é chantagista profissional (usando os seus dotes para atrair homens em boas posições e conseguir algo deles), outro seduz e descarta alguém todos os dias. Quando o grupo decide embebedar-se num laboratório, não prevê que nem tudo o que vai beber é alcóolico.

No dia seguinte começam os acontecimentos estranhos. Para além das possíveis dores de cabeça, um dos membros do grupo começa a ter problemas de identidade – ou melhor, as pessoas à volta dele não o reconhecem, excepto as do grupo, nem existe qualquer registo no campus da sua existência. O que parece ser um caso comum de se ser apenas mais um entre tantos outros, toma outras proporções quando este jovem começa a apresentar problemas de solidez corporal.

A narrativa começa por nos apresentar o grupo de jovens – mas nenhum cria grande empatia com o leitor, ainda que alguns tenham traumas que justificam a sua forma de ser. Esta desconexão com as personagens não cria grande envolvimento ou interesse no que lhes acontece. O grupo apresenta vários problemas de comportamento, ainda que, entre eles, se dêem bem. Talvez porque se reconheçam. Mas nem todos no grupo são apresentados com a mesma profundidade, fazendo com que sejam nitidamente secundários.

Em termos de desenvolvimento, o mistério maior – o que estaria nas bebidas; deixa de ser rapidamente a questão principal e leva a que o grupo se envolva com as autoridades. A partir daqui a história escala em consequências e demência, com elementos que, sendo interessantes, acabam por não ser bem explorados ou bem enquadrados.

Em suma, Faker é um livro com potencial em termos de premissa e ideia, mas que acaba por não ser envolvente ou cativante, tanto pela falta de empatia com as personagens, como pela narrativa que parece forçar um determinado desenvolvimento.