Para além de autores já de renome, como Rui Zink ou Saramago (ainda que pareça estranho colocá-los na mesma frase), são raras as obras de autores portugueses que são publicadas em inglês. Muito menos, quando se trata de um lançamento directo no mercado anglosaxónico. A Curse of Roses é um destes raros exemplos, entretanto repetido por outros autores, como Mário Seabra, com o livro Unto the Godless What Little Remains.

A autora escreveu sobre a publicação do seu livro para o The Portuguese Portal, referindo as origens da história na mitologia portuguesa, mais especificamente no episódio em que pão se transforma em rosas, levando à indicação de Isabel de Aragão como Rainha Santa, bem como as influências de lendas mouras que podem ser encontradas em vários locais do país (mas com maior predominância no sul).

Mas, afinal, o que é A Curse of Roses? Bem, após a leitura, diria que é uma mistura de romance com ficção histórica, levando-nos a conhecer uma Isabel de Aragão ficcional. Diana Pinguicha pega na lenda, para criar uma mulher que está em conflito com o seu lado mágico. Capaz de transformar a comida em flores, não controla o seu poder e, dada a influência dos padres, acha que deve jejuar e sofrer para que a maldição (o que chama ao seu poder) passe.

Tal como Midas, Yzabel (grafia original) passa fome – qualquer comida que tenta comer transforma-se em flores que não consegue engolir, principalmente quando se tratam de rosas carregadas de espinhos. A ama, uma mulher mais dada a crenças mágicas, decide-se a procurar uma moura encantada como solução, encontrando Fatyan. Vítima do poder patriacal, Fatyan prefere a companhia de mulheres e a sua presença irá despertar novos sentimentos em Yzabel.

Para além do contexto português, este romance usa, como foi referido anteriormente, elementos das lendas das Mouras encantadas, bem como um sistema de magia bastante ligado à natureza. No caso de Yzabel, trata-se de um poder transformativo que pode afectar alimentos e plantas. Ainda que este poder tenha sido herdado e apareça naturalmente, dado o contexto religioso da época, é visto como uma maldição, algo que deve ser combatido e esquecido.

Aliás, a componente religiosa é bastante forte na narrativa. Yzabel recebe instruções para se auto-flagelar ou infligir torturas, como forma de se redimir pela expressão da magia. Adicionalmente, qualquer pensamento sexual é reprimido, ainda para mais quando envolve pessoas do mesmo género. Estes castigos parecem, na progressão da história, algo mais do que uma penitência – uma forma de manter as mulheres caladas e obedientes.

Mas a história apresenta, também, alguns detalhe de outras religiões, sobretudo da muçulmana, que a moira expõe. Também no caso dela as mulheres são vistas como inferiores ou seres obedientes que devem ser remetidos ao silêncio.

Circundando estes detalhes, a ignorância da populaça e até dos mais nobres (na sua maioria analfabetos) leva-os a ter medo e a rejeitar o estranho e o diferente. E, novamente, existem expectativas bastante diferentes para homens e mulheres. Talvez por isso o rei pareça, no início, uma personagem rude e controladora, quando na verdade, esta rigidez até pode dar lugar a outra vertente, quando sente que confiam nele, revelando-se uma personagem ponderada e confiável.

O desenvolvimento da história oscila entre diversas velocidades. Por um lado, apresenta vários momentos de caracterização inicial das personagens e das suas circunstâncias, o que permite criar empatia e envolvimento, mas por outro, demora a demonstrar acção. No sentido oposto, quando se foca em momentos de acção, existe espaço para pouco mais, fazendo com que o conjunto seja incoerente neste aspecto.

Em termos de tema, apesar dos vários aspectos fantásticos, a história centra-se sobretudo nas personagens e no seu romance, sendo que as circunstâncias justificam alguns detalhes no carácter e na forma de agir.

Em conclusão, A Curse of Roses, publicado recentemente em português pela Manuscrito Editora como A Maldição das Rosas, é uma história que mistura romance e fantasia, usando factos históricos para criar um ambiente bastante diferente do que é usual no género. Existem alguns detalhes que podiam ter sido polidos (a distribuição de momentos de acção, por exemplo) mas na sua globalidade é uma história que flui e envolve.