Lançado em Portugal pela Objectiva, não me recordo de ter visto informação sobre este volume antes do seu lançamento. Apanhei-o por acaso numa pesquisa de pré-vendas de banda desenhada e senti curiosidade pela premissa. O autor é, para além de artista, um activista que critica abertamente o governo Chinês, tendo investigado várias situações encobertas pelo Governo. Depois de ter deixado a China com a sua família, vive actualmente em Portugal.

Neste volume, o autor usa o zodíaco chinês e os contos associados aos vários signos, para falar sobre o ambiente cultural e social na China, falando da forma como os artistas eram tratados durante a Revolução Cultural, e depois, presos e restringidos na sua possibilidade artística. Vistos como elementos incontroláveis ou pouco compreensíveis, os artistas são alvo de perseguição, prisão e opressão. Uma política de resultados dúbios que transformou o autor num símbolo de resistência, numa espécie de mártir enquanto era preso sem acusações.

Cada capítulo começa pois então, com a referência a um signo diferente. Por vezes a exploração do conto é muito superficial, noutras, interliga-se com os episódios que o autor quer contar. Muitas vezes, os signos servem como símbolos de resistência ou ajudam no desenvolvimento da ideia. Esta premissa dá origem a páginas bastante detalhadas.

As histórias não se centram apenas no autor, referindo outros activistas e artistas. Por vezes deambulam entre ficção, mito e realidade, intercalando-se com ensinamentos, ou deixando tudo aberto a interpretação do leitor. É, pois, uma leitura pausada, que deve ser complementada com introspecção, não tendo, nalguns momentos, um único objectivo. Estes momentos menos lineares são, por vezes, algo confusos, sem concretização narrativa.

Ultrapassando esta estrutura relaxada, Zodíaco é uma leitura peculiar, quer pelo conteúdo, quer pela forma. A interligação dos mitos com a resistência nem sempre é muito óbvia e fechada, mas a cada capítulo somos confrontados com o resultado da vivência num regime fechado, que parece não ter lugar a arte – sobretudo se esta não for fortemente ligada aos objectivos políticos chineses.