Depois de vários álbuns onde incluíam convidados e outras participações pontuais, algumas delas estrangeiras, os Danças Ocultas voltam a centrar-se na formação original com o lançamento de um novo álbum, Inspirar. Em Inspirar as músicas sustentam-se em quatro concertinas, sendo o lançamento deste álbum que justifica os dois mais recentes concertos, um deles em Lisboa, no Teatro S. Luiz.

Apesar de estarem quatro músicos em palco, são, na realidade, cinco as concertinas, havendo duas que vão sendo trocadas no decorrer do concerto – uma delas com um tom mais grave, que constrói a coesão e determina o tom das músicas. Mas todas têm o seu papel em cada uma das músicas, levando-nos a questionar como se aguenta um concerto com a repetição de um mesmo instrumento?

A resposta estará na utilização de todas as formas imaginárias, desde o som do respirar do fole à combinação de diferentes tons e, até, de silêncios estrategicamente colocados. Os Danças Ocultas desconstroem o instrumento, recriando a concertina e explorando todas as suas potencialidades – usando técnicas mais tradicionais como alternância de ritmos e notas arrastadas, e outras menos usuais como o som do fole e a batida nas teclas. Mas não só, havendo papéis distintos de cada concertina na construção da melodia final.

A concertina (ou acordeão diatónico) é, sem dúvida, o foco e não é, assim, de estranhar, que, à chegada, se apresentam sob o holofote. Já os músicos apresentavam o mesmo fato cinzento, pouco destacável, deixando ao instrumento o realce devido.

Em palco, sente-se a cumplicidade, que se expressa com a troca de olhares, antecipações de entusiasmos e sorrisos nem sempre escondidos entre os músicos. Expressões que se transmitem à plateia e contagiam. Sente-se uma envolvência crescente, mas também a tensão e a concentração dos músicos, sobretudo nas músicas do novo álbum, provavelmente fruto da novidade.

Apesar de existirem boas músicas em Inspirar, o auge do concerto chegou com o reportório mais antigo, não só pelo nosso prévio conhecimento das músicas, mas porque alguma da tensão inicial do grupo se desanuviou e, agora mais solto, deixou mais espaço para libertar a criatividade coordenada das 4 (5) concertinas.