O nome Christopher Barzak apareceu-me pela primeira vez entre os autores dos livros da lista preliminar de nomeados para o prémio Nebula. O livro, One for Sorrow. A descrição disponível na net indicava uma obra com laivos fantásticos um pouco diferente do que é habitual, criada em resposta a The Catcher in the Rye:
Part thriller, part ghost tale, part love story, One for Sorrow is a novel as timeless as The Catcher in the Rye and as hauntingly lyrical as The Lovely Bones. Christopher Barzak’s stunning debut tells of a teenage boy’s coming-of-age that begins with a shocking murder and ends with a reason to hope.
Nomeado para uma série de prémios pouco conhecidos, One for Sorrow é a primeira obra de Christopher Barzak. Curiosa, comprei o segundo livro do autor, The Love We Share Without Knowing, acessível nos vendedores que costumo utilizar.
Também com uma componente sobrenatural (fantasmas), The Love We Share Without Knowing explora os relacionamentos amorosos e as amizades que se estabelecem entre americanos ou ingleses que decidem viver durante algum tempo no Japão, e os nativos.
Em todos os casos existe decididamente um choque cultural – a subtileza do japonês contrasta com a frontalidade ocidental, e ainda que a princípio pareça fácil conhecer novas pessoas, estas desaparecem tão facilmente quanto aparecem, satisfeita a curiosidade.
Cada capítulo é uma história que se interliga com as restantes, contando várias perspectivas de uma mais complexa e que envolve várias personagens. Um dos temas bastante referido é o suicídio, mais especificamente o colectivo; assim como a solidão numa multidão.
Na primeira história, um jovem americano é obrigado a mudar-se para o Japão com a família e numa das viagens à cidade conhece uma rapariga vestida de rapousa, Midori. Quando tenta, no dia seguinte, re-encontrá-la em casa, descobre pelo pai que Midori se suicidou vários anos antes.
O suicídio de Midori não é o único de que tomamos conhecimento, e anos depois a melhor amiga de Midori participa num suicídio colectivo. Os participantes são pessoas que não descobriram qualquer sentido para a vida que levam, nem estabeleceram relações duradoiras que os satisfaçam. Ao londo das várias histórias vamos conhecendo cada um, directa ou indirectamente, por relato em primeira mão, ou por observação de um amigo ou amante.
Alguns dos conceitos culturais revelados em The Love We Share Without Knowing são-me completamente alienígenas – a crença de que uma mulher se não casa até aos trinta está acabada, a existência de profissões destinadas ao sexo feminino, a forma como as pessoas evitam confrontos emocionais ou como se preocupam mais com o pensamento dos vizinhos do que com o sentimento dos familiares. Se algumas ideias parecem saídas de uma sociedade medieval, outras parecem provir de uma do século XXI.
Talvez por isso, aquilo que mais senti durante o livro foi estranheza – algumas passagens são belíssimas, outras são algo decepcionantes pelo resultado do confronto entre culturas. Nalguns casos parece existir eternamente uma barreira composta de expectativas e preconceitos que impede a correcta comunicação entre as pessoas – uma pré-formatação da mente que tenta encaixar os novos conhecimentos naqueles que já possui. Este foi o facto mais arrepiante das histórias – não os suicídios ou os fantasmas; mas a incapacidade de ver o outro através do filtro que cada mente estabelece, algo que acontece diariamente, inclusive entre pessoas da mesma cultura.
Não se tornou um dos meus livros favoritos, mas deixou-me um espaço para reflexão e talvez faça aquilo que raramente faço com um livro – repetir a leitura. Não é um livro de fadas e dragões, e muito menos alegre – possui alguma melancolia e tristeza mas também amor e alegria, como não podia deixar de ser num livro que explora os relacionamentos humanos.