
Eis uma série que me passou despercebida até ter aparecido o jogo de tabuleiro e ter lido o conceito. Bem, após este primeiro volume posso dizer que a história é estrondosa, respondendo e incitando todas as teorias da conspiração possíveis e imaginárias!
Tudo começa quando uma jornalista se decide a investigar o caso do voo 815 – um voo em que todos os passageiros perderam a memória, com graves consequências pessoais. Com pouco dinheiro na conta, a investigação leva-a rapidamente a ver-se perseguida e salva por agentes misteriosos, descobrindo a existência de uma organização governamental que será responsável por usar vários seres humanos com poderes peculiares que podem ir desde a sugestão com anúncios à suposta alteração da realidade.



Depois de nos ser introduzida a jornalista e sua missão, vamos sendo apresentados aos vários agentes que, na infância, vão sendo deixados pelos pais ao cargo da agência governamental para treino. Cada poder é apresentado (não explicado, na boa forma, show not tell), seguindo-se mais um episódio em que a jornalista segue pistas e foge dos seus perseguidores.
Capítulo a capítulo, a trama vai evoluindo e crescendo. Tal como a conspiração atinge uma escala mundial, também os segredos que vai revelando são progressivamente maiores e mais chocantes. Mas nem tudo é verdade. Ou melhor, nem todas as versões são absolutas e determinantes, existindo nuances e perspectivas que vão sendo acrescentadas – se as memórias e os pensamentos podem ser manipulados, quanto do que recordamos aconteceu e quanto do que fazemos é determinação nossa?



Mind MGMT não é fácil de entrar. A narrativa apresenta detalhes sucessivos como um puzzle que se vai construindo página a página e ainda que existam episódios de acção constantes, com fugas, perseguições e mortes, de alguma forma, esta acção não se traduz numa cadência narrativa elevada e senti que a progressão era lenta. Felizmente, após algumas páginas, a leitura cativa pelo mistério crescente, ao qual se vão adicionando detalhes – e conforme se avança na leitura, mais embrenhado fica o leitor.
A estrutura também não ajuda a criar velocidade de leitura. A apresentação de um novo agente com os seus poderes numa pequena história que não se embrenha directamente na história principal muda o foco da leitura e provoca, também, uma pausa. Compondo todos estes detalhes, a própria letra nem sempre é de fácil leitura, ainda que esteja de acordo com o estilo visual do livro.



Já o desenho é, também ele, peculiar, pouco detalhado e pintado a aguarelas, pouco concreto e, por vezes, difícil de percepcionar. Mas nem por isso mau. Tal como a estrutura do desenho, leva-nos a olhar atentamente, a perceber detalhes como a existência, por vezes, de um diálogo paralelo em rodapé no seu próprio formato de banda desenhada.
E apesar de toda esta aparente dificuldade e pausa, adorei este primeiro volume (de três). A história vai crescendo em detalhes e complexidade – tanto por se acrescentarem elementos, como por percebermos que nem tudo o que lemos pode ser tomado como verdade, sendo apenas uma perspectiva, ou até, uma memória falsa. O resultado é uma narrativa de dimensão avassaladora que nos cativa sem nos apercebermos.


