Publicado em 2007 pela Editora Saída de Emergência, Mentiras no Divã conheceu nova edição pela mesma editora, através da chancela Camões & Companhia. Ainda que seja do mesmo autor de Quando Nietzsche Chorou, centrando-se também na psicologia, Mentiras no divã distingue-se por não tomar como personagens principais figuras relevantes no desenvolvimento da psicologia, mas antes psicólogos comuns que se debatem com questões éticas da profissão, e cujos doentes contam mentiras durante as sessões, por motivos vários.

Lash iniciou a prática com a consulta de um dos mais proeminentes psicólogos da altura, Seymour Trotter, caso que nenhum dos seus colegas queria aceitar pela polémica envolvida.  Seymour Trotter defende a honestidade para com o doente, a revelação de factos pessoais para eliminar a barreira impessoal da consulta. É com esta prática que se vê envolvido emocional e sexualmente com uma das suas pacientes, uma mulher com comportamentos destrutivos que procura emoção através de acções perigosas: sexo casual desprotegido, abuso de drogas ou condução inconsciente. Tendo como objectivo um fim-de-semana passado a dois, a paciente abandona todas estas práticas, durante largos meses. O prazo estabelecido aproxima-se e Trotter vê-se entre quebrar a ética médico – paciente, ou desiludir uma doente com tendências auto-destrutivas.

Este terá sido o primeiro caso de Lash, um jovem psicanalista que tem, entre os seus pacientes, um homem incapaz de tomar decisões, que há anos que pretende abandonar o casamento, mas continua a viver com a esposa. Até que, com o início de um novo relacionamento, por comando da nova namorada, deixa todos os pertences e abandona a casa.  Raivosa, a esposa, que terá tido várias más experiências com psicanalista, jura vingar-se do marido através de Lash.

Simultaneamente, o coordenador de Lash, Marshal Streider é um psicanalista proeminente que, devagar, afasta os possíveis concorrentes ao comando do Instituto. Mas se Marshal é bem sucedido profissionalmente, o casamento parece estar a deteriorar-se, com o afastamento contínuo da mulher. Por outro lado, vê-se envolvido num esquema de burla, por parte de um suposto paciente milionário, do qual aceitou uma vantagem monetária.

Em Mentiras no divã Irvin D. Yalom explora a psicanálise da perspectiva do psicanalista, ou seja, na constante resistência a se envolverem emocional ou sexualmente, na confusão de sentimentos gerada pelas sessões, que pode levar à necessidade de também os psicanalistas serem continuamente analisados por colegas, no sentido de se manterem neutros. Por outro lado, também os pacientes podem esconder outras motivações, desde a manipulação dos psicanalistas, à invenção de novas personalidades.

Com uma perspectiva totalmente diferente de Quando Nietzsche Chorou, Mentiras no divã explora, nas várias histórias interligadas, a vertente humana do psicanalista: a frustração perante a reacção de um doente (ou falta de reacção), a tentação de ceder a uma oferta monetária ou à sedução de uma mulher ou o questionamento das terapêuticas utilizadas. Mentiras no divã aproveita as duas diferentes perspectivas de Lash e Marshall para construir uma narrativa sólida e bem-estruturada, interligando, com sucesso, as várias histórias, num livro objectivo que nunca perde o interesse.