Quando iniciamos a leitura de O Fantasma de Canterville quase que pensamos estar na presença de um banal conto sobre uma casa assombrada. A premissa é igual a tantas outras. Um homem compra uma mansão, decidido a mudar-se com a família, não obstante as histórias tenebrosas dos anteriores inquilinos. Nódoas de sangue retornam diariamente, sons medonhos são gritados durante a noite.

E é aqui que o rumo muda, tornando a história numa das melhores, se não a melhor, história de fantasmas. O novo proprietário da mansão é um homem de negócios moderno, americano, habituado às invenções mais recentes e aos produtos mais miraculosos. A esposa acompanha-o nesta forma de pensar, liberta de preconceitos e crenças, assim como os filhos.

Homem prático, decide lidar com o fantasma quase como se este fosse um ser humano vivo, não se cansando de limpar a nódoa de sangue que retorna todos os dias, e oferecendo-lhe lubrificante para as correntes barulhentas, enquanto os filhos, um par de gémeos traquinas, se divertem a pregar partidas ao fantasma. Frustrado e ofendido, o fantasma tenta, por todos os meios, assustar os membros da família.

Este conto possui tudo para ser perfeito. Iniciando-se como uma história gótica de horror, opõe-se às narrativas tradicionais e torna-se numa história cómica, divertida e, até, com uma ponta de ironia. Sem largar totalmente o sobrenatural, e a ideia trágica de uma alma penada, explora com sucesso uma perspectiva que torna o conto singular.