Dizer que o interior de um livro de Shaun Tan é espantoso já não surpreende. Oscilando entre os tons sépia e os gradientes de cinzento, na ausência de palavras, as imagens contam uma história de emigração, acompanhando o sacrifício de um homem em deixar a família procurando condições melhores, na esperança de, um dia, os poder trazer.
Deixando um local menos seguro onde prosperam forças maléficas este homem parte rumo ao desconhecido chegando a um local onde encontra sobretudo dificuldades – confusão nas ruas desconhecidas, barreira linguística, estranheza de objectos e costumes que se distanciam dos que conhece.
Entre a solidão e o medo de falhar, o homem procura adaptar-se a este novo mundo, tendo como consolo a lembrança da família que deixou para trás num país sombrio e a esperança de os libertar da opressão.
Claro que, sem palavras, todas as nuances têm de ser interpretadas – os tentáculos e os jogos de sombras que populam a cidade de origem que se combinam com as expressões mais fechadas das personagens dão a sensação de um ambiente opressivo e deprimente que é abandonado com tristeza e esperança em algo melhor.
Esta opressão contrasta com os planos mais abertos de detalhes futuristas onde se denota a estranheza da personagem – a mesma que nós sentimentos perante aqueles estranhos caracteres e peculiares objectos.
A história é simples e linear mas cumpre o objectivo óbvio – dar a entender as dificuldades de um migrante, focando-nos em sequências de imagens onde se transmitem pensamentos e sentimentos. O resultado é visualmente agradável e, ainda que não possua surpresas durante o percurso da história (a grande diferença é a reinterpretação e transfiguração de elementos) traz um paralelismo reconhecível com a vida de tantas pessoas que se deslocam em procura de melhores perspectivas de vida.
Em Portugal Emigrantes foi publicado pela Kalandraka.
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