
Eclipse baseia-se numa premissa bastante simples – e se a luz solar não fosse suportável pela vida? Neste caso, pelo Homem? E se andar à luz do dia provocasse queimaduras tão graves que um ser humano se desfaz em poucos segundos? Assim é em Eclipse! Mas nem sempre assim foi – um dia esta realidade foi como a nossa, mas num único momento em que milhões de seres humanos morrem, a luz do sol passa a ser evitada a todo o custo.

Vários anos depois vamos encontrar uma sociedade humana adaptada às novas circunstâncias: deambula-se e vive-se durante a noite, ou em zonas subterrâneas que pretendem correspondera todas as usuais necessidades humanas. As companhias proliferaram e parecem ter mais poder do que as usuais estruturas governamentais – um tópico que vai sendo citado levemente ao longo da narrativa.

Neste realidade, estranhas mortes sucedem-se. Os corpos são encontrados desfeitos durante o dia, nas ruas da cidade, em posições e circunstâncias suspeitas. David Baxter, engenheiro solar habituado a deambular pelas ruas durante um dia com um fato especial, é chamado a ajudar com a resolução do caso e com a protecção de uma jovem, filha de um magnata, que poderá ser a próxima vítima.

Com uma premissa interessante, e um mundo bem construído em torno da ideia, Eclipse tem algumas falhas no desenvolvimento da narrativa e no desenvolvimento das personagens. Por um lado, as personagens são apresentadas sem grande contexto. Sabemos que David não gosta das grandes corporações, mas não sabemos porquê. Sabemos que teve um caso com a técnica de laboratório, mas também não sabemos o que os leva a ter o diálogo cliché que é habitual lermos quando um detective já teve um romance semelhante.

Esta exploração muito linear das personagens é um dos pontos mais fracos da série – até numa movimentada série de super-heróis se dedicam alguns vinhetas a mostrar algum episódio que nos faz sentir empatia por alguma personagem. Mas não são só as personagens que são uni dimensionais. Os diálogos também são fracos.

Outro ponto menos positivo são os princípios científicos – a utilização de conceitos biológicos de forma errónea tentando explicar um evento de forma tosca (e não me estou a referir ao sol); ou os corpos que, estando ao relento, não apresentam maior degradação do que no dia em que terão sido queimados. Algumas coincidências não preparadas na narrativa também não ajudam à leitura.

Então, e os pontos positivos? Eclipse é um livro movimentado, carregado de acção que nos apresenta uma premissa interessante e um enigma. Apesar dos defeitos narrativos, o autor consegue mover a história de uma forma lógica. Existem pontos inconsistentes e algumas arestas a limar. Nada que seja de estranhar num autor pouco experiente que se iniciou na banda desenhada há pouco tempo.

Em termos visuais, é competente e possui imagens interessantes. Na sua maioria os desenhos apresentam detalhe (excepto, como seria de esperar nos episódios de acção), transmitem movimento e contém expressividade. As cores rondam o acizentado e as cores pastel, sem grandes momentos excepcionais, mas num tom mais ou menos constante entre o razoável e o bom. No final, o volume apresenta um grande caderno de extras com esboços, textos dos autores sobre algumas escolhas e informação sobre as personagens.
A conclusão? A série tem pontos de interesse suficientes para me manter nos próximos volumes, mas devo prosseguir com calma, já que os defeitos me impedem de considerar a leitura do segundo volume por agora.