Alfonso Zapico é um autor de banda desenhada com obras publicadas em Portugal na colecção Novela Gráfica (parceria entre a Levoir e o Jornal Público): Gente de Dublin ou Café Budapeste. Mas, até ao momento, a melhor obra dele é La Balada Del Norte (quatro volumes dos quais ainda falta publicar o último) em que o autor se refere aos conflitos que decorreram nos anos 30, nas Astúrias, com os mineiros a revoltarem-se com as condições degradantes em que subsistem.

O regime em que se encontram é quase feudal, com os donos das minas a imporem condições de trabalho horrorosas, a par com salários escassos para os manterem dependentes. O que é especial em La Balada do Norte é a criação de personagens, de ambos os lados da barricada, que nos fazem entender os seus próprios desafios, enquanto explora as circunstâncias históricas. Este Los Nino de Humo Alfonso Zapico une-se a Aitana Castaño para voltar à realidade dos mineiros, numa abordagem mais recentes e mais próxima das pessoas – ambos serão descendentes de famílias de mineiros e resolvem retratar, ou contar, episódios peculiares que permitem a caracterização desta realidade.

A história

O livro não segue uma personagem ou uma linha condutora na globalidade dos episódios. Estes episódios costumam ocupar entre uma a quatro páginas. Apresentam uma personagem e uma circunstância que permite perceber a existência mineira. Por vezes, a mesma personagem ou o mesmo episódio volta a ser alvo de nova observação, sob uma diferente perspectiva.

A narrativa

Apesar de se tratarem de episódios independentes, existe alguma interligação de episódio para episódio, uma espécie de ordenação em que as ocorrências de sucedem ou se referem umas às outras.

Ainda que os episódios sejam independentes, consegue-se criar empatia para com as personagens, seja por curtas referências aos seus pensamentos ou reacções, seja por resumir as circunstâncias da sua existência de forma empática.

O resultado é interessante e peculiar. Interessante porque até nos sentimos envolvidos por estas pessoas que são alvo de atenção por curtas páginas. Peculiar porque a realidade que retratam é muito diferente da que estamos habituados e alguns dos episódios são caricatos.

Conclusão

Los Niños de Humo é uma leitura interessante ainda que a sua divisão episódica nem sempre permita uma leitura mais fluída. É um retorno às origens para os autores que esperam, assim, reter um pouco do legado da comunidade mineira do Norte. A abordagem permite reter vários episódios ou existências, e captar os elementos caracterizadores da comunidade. Cada episódio é acompanhado ou enquadrado numa ilustração no estilo que é conhecido do autor.

Não é uma leitura rápida, mas é uma leitura cheia de conteúdo e de caracterizações, que gostei bastante de ler.