Este é o terceiro volume de uma série da autora T. Kingfisher. Cada volume é dedicado a um paladino diferente, prevendo-se que a série seja de sete volumes. Nos volumes anteriores (Paladin’s Grace e Paladin’s Strenght) acompanhamos os paladinos Stephen e Istvhan, respectivamente, em duas aventuras bastante distintas. Na primeira tenta-se perceber uma série de assassinatos e tentativas de assassinato (e traição) com a ajuda de fazedora de perfumes com uma excelente capacidade olfactiva. Na segunda, os paladinos cruzam-se com uma freira peculiar, que terão de ajudar, enquanto fazem um transporte sensível. Em ambos os livros, em paralelo aos enigmas e missões, acompanhamos o envolvimento romântico do paladino com outra pessoa, seguindo a perspectiva de ambos (paladino e pessoa pela qual se apaixonam).
Paladin’s Hope não se afasta muito desta premissa. Neste caso, centra-se no paladino Galen e no médico legista Piper, duas personagens que já tínhamos conhecido tangencialmente em volumes anteriores. Galen é um paladino abertamente homessexual que, tal como os restantes, tem receio em se comprometer por conta do seu modo Berserker. A ordem a que pertence estava associada a um Deus que morreu, o que faz com que o seu modo Berserker se active sempre que se sente ameaçado, mas de forma descontrolada.
Por sua vez, Piper é um médico legista com um dom especial no que diz respeito aos mortos – basta tocar-lhes que revive a sua morte. E não só de humanos. De qualquer animal. Na prática, Piper não pode tocar em restos de qualquer animal. Este dom ser-lhe-à muito útil na sua profissão, mas digamos que andar continuamente em torno de cadáveres não é algo que costume atrair companhia.
Quando um gnole (criatura pequena com capacidade limitada para falar a língua humana) descobre vários corpos bizarros no rio, pede ajuda a Piper e a Galen. Expulso da guarda, este gnole volta a chamar os dois, convencendo-os da necessidade de investigar o que os restantes guardas não querem explorar. Assim se conhecem Piper e Galen que, desde início, parecem sentir atracção um pelo outro. Mas esta atracção irá lentamente dar origem a algo mais, sobretudo quando passam vários dias seguidos juntos para descobrir a origem dos corpos.
Mais pequeno que os volumes anteriores, a premissa de Paladin’s Hope é menos desenvolvida – a história centra-se exclusivamente na procura da origem daqueles corpos (e no confronto com o assassino), existindo um quase esquecimento dos homens de barro que tanto foram falados anteriormente. Mesmo em termos de relacionamento, os anteriores volumes exploram um pouco mais as personagens antes de haver envolvência, criando mais empatia para com elas.
A história permite apresentar mais alguns elementos curiosos do mundo que encontramos nesta série. Percebemos alguns detalhes de como funciona a sociedade dos Gnome e como são tratados pelos humanos, como seres inferiores, alvo de preconceito devido à sua dificuldade em se expressar na língua humana. Ainda, são-nos relatados uma série de restos civilizacionais deixados há muitos séculos por uma outra espécie, quase divina – mecanismos e robots letais.
Paladin’s Hope é um livro engraçado. A origem dos corpos é inusitada e original, proporcionando um percurso diferente e curioso. O romance é mais tosco do que o apresentado nos livros anteriores, e a narrativa mais curta, quebrando um pouco com o mistério dos homens de barro que tem sido explorado nos anteriores. Em resumo, é uma leitura engraçada, mas um pouco menos interessante e envolve do que é habitual nos restantes livros da autora.