Este volume é o segundo de uma série de T. Kingfisher (sendo o primeiro Paladin’s Grace). No anterior tínhamos ficado a conhecer uma ordem de paladinos que entrariam em modo furioso, ajudados pelo seu Deus, para eliminar vilões e salvar inocentes. Com a morte deste Deus, a maioria dos paladinos morre, sendo que os poucos sobreviventes têm agora receio de entrar em modo furioso, pois já não existe quem os guie. Também no volume anterior nos foi apresentado este mundo, onde existem uma série de assassinatos provocados por uma espécie de golem de cabeças de barro. Este volume deveria prosseguir este mistério!

A história

Paladin’s Strenght esquece as personagens principais de Paladin’s Grace, focando-se noutro paladino, Istvhan, enquanto se encarrega de uma missão de transporte. Esta missão, aparentemente simples, irá fazer com que se cruze com Clara, uma freira que terá sido feita prisioneira, durante um incidente diplomático-cultural. A partir dessa momento, Clara irá juntar-se à caravana, julgado que Istvhan é um mercenário.

Ambos escondem segredos. Clara pretende descobrir e salvar as outras freiras do seu convento. O motivo para terem sido raptadas é o seu segredo, que estará relacionado com a sua própria natureza. Já Istvhan omite ser um paladino e esconde a informação que detém sobre os assassinatos, ainda que tente perceber se o padrão se mantém noutras localizações que não a cidade.

Crítica

Tal como no primeiro livro, a história segue um padrão de romance fantástico, em que as duas personagens principais sentem mútua atracção, mas por desencontros, desentendimentos e impedimentos psicológicos, se vão aproximando e afastando, sem perceber o interesse da parte oposta.

Mas apesar de se tratar de um mundo de baixa tecnologia, com alguma (limitada e bem pontuada) magia, as personagens não seguem os padrões normais de um romance de cavaleiros e donzelas. Clara não é uma mulher indefesa, e apesar das suas inseguranças (fruto de traumas passados) é destemida, corajosa e forte, defendendo-se em batalhas corpo a corpo. E ao contrário dos normais padrões, será esta diferença em Clara que atrairá Istvhan, provocando-lhe, simultaneamente, interesse e assombro.

Por sua vez, Istvhan está habituado a mulheres (tem muitas irmãs) e percebe como o seu interesse, se demonstrado de forma demasiado explícita, pode rapidamente transformar-se em coação ou ser entendido como excessivo. Mas, na prática, é todo este cuidado que vai aumentar os desentendimentos, com ciclos de aproximação e afastamento.

Clara é uma mulher madura, tal como Istvhan. E quando confrontados com parceiros mais novos, existe a consciência da diferença de idades. As personagens destacam-se pela faixa etária, mas não só. Algumas, secundárias, apresentam preferência pelo próprio sexo, sem que isso seja propriamente um tabu ou um grande segredo. Simplesmente, assim é. As personagens são desenvolvidas, apresentando carácter próprio e cativando-nos.

A autora, apesar de usar alguns dos clichés dos géneros romance e fantasia, consegue alterá-los ou utilizá-los entre outros elementos, provocando algum efeito de novidade. Tão importante quanto o envolvimento das duas personagens é o mistério que acabam por tentar perseguir juntos. Por outro lado, os encontros e desencontros nunca atingem o auge de tensão e drama dum romance tradicional, fazendo com que a narrativa seja mais construtiva, e mais focada no que vai acontecendo em torno das personagens.

Tal como noutros livros da autora, existem detalhes mágicos (ou sobrenaturais). O paladino pode entrar em modo de fúria e destruir quase tudo o que se encontra à sua frente (mesmo quem não quer). Já Clara tem um monstro no seu interior que se pode soltar e ter efeitos semelhantes. Ambos os modos que envolvem efeitos sobrenaturais têm consequências duras e desgastam os seus portadores – este tipo de poder não pode, nem deve, ser usado de qualquer forma, e tem os seus limites. Para além destes poderes, são-nos apresentadas criaturas que não existem no nosso mundo, como uma espécie sapiente de coelhos que pensa em grupo (e não como indivíduos) e com a qual a comunicação é, no mínimo peculiar.

Este segundo volume é mais fácil de entrar do que o primeiro, mas não se torna tão interessante. O primeiro volume tem um início mais lento, com uma caracterização de personagens mais prolongada nas primeiras páginas, mas desenvolve mais duas narrativas em paralelo ao romance – dois mistérios, de nível bastante diferente; e apresenta uma personagem com capacidade para reproduzir qualquer cheiro que lhe é apresentado.

Paladin’s Strenght começa mais rapidamente, com um episódio carregado de tensão. Mas enquanto o primeiro volume se situava numa cidade, este segundo leva-nos pela viagem das personagens, sendo que a primeira parte do livro se debruça em elucidar, lentamente, os verdadeiros contornos das missões de Clara e Istvhan. Não existe, portanto, muito espaço para outros mistérios ou prioridades.

Conclusão

Ainda que, inicialmente, pensasse que estes volumes faziam parte de uma trilogia (porque até ao momento estão publicados três), parece que se irá tornar uma série, com sete volumes, um por cada paladino. Este segundo volume consegue manter-se interessante, ainda que seja menos inovador que o primeiro – tanto pelos detalhes do mundo, como pelas missões e obstáculos que as personagens enfrentam. É, no entanto, uma excelente leitura e irei decerto adquirir brevemente o terceiro volume.