Eis mais um livro sobre livros que se debruça sobre a progressão da escrita ao longo da história da humanidade. Mas depois de tantos livros com tema semelhante, o que distingue este? Bem, tanto a abordagem, com o conteúdo.
Os livros sobre escrita e literatura de Manguel, Carrión ou Roberto Calasso são livros que se vão debruçando sobre vertentes específicas das bibliotecas, das livrarias ou da forma de leitura. Mas, com mais ou menos derivações, possuem referências algumas referências comuns entre eles, ou passam pelos mesmos autores.



Neste caso, a abordagem é bastante peculiar. O autor vai passando de religião em religião, ou de civilização em civilização, enquanto se debruça sobre a forma como se desenvolveu a escrita e o suporte em que esta era feita, ao mesmo tempo que apresenta a obra mais marcante, explora o seu conteúdo e o que a rodeia.
A abordagem centra-se em textos ao longo de milénios e nas várias regiões do globo: desde O Romance de Genji a Popol Vuh, à Epopeia da Sunjata e à literatura pós-colonial. As referências ocidentais são raras, quase restritas a Dom Quixote, Goethe ou, surpreendentemente, Harry Potter. Em contrapartida, o autor explora textos sobre os quais pouco ouvi falar, contextualizando-os e dando-lhes importância histórica – ou melhor, mostrando como a literatura pode influenciar os acontecimentos.



De conteúdo denso, as quase 400 páginas de texto não fluem com rapidez. Não que o autor use frases muito complexas ou palavras raras, mas o tamanho de letra é menor que a média, e existe alguma densidade no conteúdo. O autor não se repete, nem floreia, sendo quase sempre bastante objectivo na apresentação da informação. O elemento menos “sério” diria que é o facto de apresentar algumas passagens em que se torna consciente no texto, falando da viagem que o levou a determinado local (associado ao tema).
O Mundo da Escrita é, portanto, um livro de leitura lenta, para ser intercalado entre outras leituras. Ou pelo menos foi assim que o li, por forma a processar a informação que ia absorvendo. A abordagem é interessante e inteligente, concedendo uma perspectiva construtiva e contextualizada das obras a que se refere. Diria que o ponto fraco é o facto dos últimos capítulos serem menos coerentes com as restantes referências.