A colecção de Clássicos da literatura portuguesa em BD, lançada pela Levoir em parceria com a RTP, iniciou-se com a adaptação de Mensagem de Fernando Pessoa, mas não é, na realidade a primeira vez que vemos clássicos portugueses adaptados para este formato, por esta mesma parceria. A colecção de 2022 tinha já incluído Os Maias de Eça de Queirós, Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco e Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente. Tendo achado que este último funcionou bastante bem no formato de banda desenhada, claro que dei primazia a experimentar este volume.

Tal como o Autor da Barca do Inferno, Farsa de Inês Pereira é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente, que terá escrito como resposta a acusações de plágio, centrando a obra no ditado popular «Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube». Desta forma, a narrativa centra-se em Inês, uma jovem que começa por aspirar a um charmoso (mas na prática, inútil) marido, percebendo mais tarde que a escolha não terá sido a mais acertada.

Felizmente, viúva, resolve mudar os seus objectivos e casar-se com aquele que a desejaria, e que, apesar das origens mais pobres, se deixa levar pelos seus modos e histórias. Mas Inês não ficará satisfeita com este marido dócil, traindo abertamente o marido durante a história.

Ao contrário do Auto da Barca do Inferno, que se trata de uma peça bastante crítica relativamente aos modos de todas as classes sociais, sobretudo na forma como encaram a religião e as diferenças sociais, Farsa de Inês Pereira é antes uma comédia sem foco na moral, apesar dos feitos da personagem principal, uma paródia aos modos das jovens que aspiram ao casamento e que se deixam envolver em cantigas.

Em termos de adaptação, a história cativou o espírito cómico da peça, focando-se nos diálogos e transmitindo expressividade e comicidade. Os desenhos acompanham o texto, com desenhos capazes de captar movimento e demonstrar as interacções entre as personagens. Enquanto adaptação encontra-se acima da média, podendo ser lido de forma autónoma do livro original.

Farsa de Inês Pereira é dos melhores volumes de Clássicos da literatura portuguesa em BD, destacando-se quer pelos desenhos expressivos e dinâmicos, quer pela adaptação do texto que ganha a fluidez necessária para o formato.