Este é um daqueles livros que estava na minha lista de compras futuras em inglês. Claro que sendo lançado em português ganhou prioridade! As críticas são unânimes em designar o livro como confortável e amoroso, uma leitura positiva e relaxante. E era mesmo algo assim que procurava depois de ler o tão pesado Underground Airlines.

Viv é uma ogre guerreira que está farta das missões violentas. A sua última deverá proporcionar-lhe os mais para assentar e criar um projecto próprio. Obtendo um artefacto mítico cujas lendas dizem trazer boa sorte, estuda o suficiente para escolher o local onde vai criar um café.

A partir daqui, a história decorre entre a construção e evolução de um café numa cidade onde tal bebida é desconhecida, e os desafios habituais que surgem em fantasias quando alguém quer desenvolver um projecto, com uma mistura de antigos inimigos e extorsionários. Felizmente, o empreendimento atrai, também, os mais curiosos amigos e aliados que ajudarão a construir o ambiente aconchegante em torno do café.

Tal como esperava, Café das lendas não é uma extraordinária leitura de fantasia, não surpreendendo pelos detalhes do mundo ou por um sistema diferente de magia. Até, diria, que tirando as criaturas diferentes (e reconhecíveis de comuns fantasias), quase que poderia ser um livro numa qualquer cultura semi-medieval, onde a tecnologia não é muito avançada, mas co-existem diferentes tipos de pessoas.

Mas, também, conforme esperado, é uma leitura confortável, fluída e que transborda simpatia a cada página e a cada interacção. Claro que existe alguma tensão provocada por aqueles que tentam opor-se a Viv e ao seu café, mas estes conflitos são, também, enfrentados de forma positiva e construtiva, mesmo quando a raiva parece poder tomar conta do episódio.

A história flui com facilidade, debruçando-se, por vezes, nos detalhes da construção do café e na descrição do ambiente confortável que se vai criando, desde o cheiro a café e chocolate, à música que se instala, ao gato selvagem que se torna um inquilino permanente e aos bolinhos que misturam especiarias várias especiarias.

Claro que este aura de simpatia aconchegante esconde alguns detalhes não explorados. A personagem partia em missões onde usava a espada de forma bastante agressiva e não nos deixamos de questionar se todos mereciam sentir o frio do metal. Mas esta vertente é rapidamente abandonada, até porque se trata mais de um livro onde se demonstra que é possível ter uma segunda oportunidade e mudar radicalmente de abordagem nos projectos desenvolvidos.

Café das Lendas não é uma leitura excepcional de fantasia. Não esperem uma forte construção de mundo, detalhes originais ou feitos heróicos. A diferença encontra-se na abordagem e na perspectiva, explorando-se antes um contexto de conforto cruzando-o com a ficção especulativa, que recorda ligeiramente livros orientais como Before the coffee gets cold, mas que decorre num mundo fantástico, com criaturas fantásticas.