
Eis mais um volume da colecção Novela Gráfica, lançado fora dos lançamentos com o jornal Público. Neste caso, é um volume de Taha Siddiqui, jornalista de investigação de origem paquistanesa. É uma leitura impressionante, quer pela perspectiva quer pelo contexto em que a personagem (o próprio autor) se encontra.



A história começa por nos mostrar Taha a viver com a família na Arábia Saudita. Ainda que sejam de origem paquistanesa, o pai teria a oportunidade de um emprego melhor na Arábia. Lentamente, percebemos que o pai se radicaliza, por conta da influência de um líder religioso de posições mais extrema – mudança essa que também é partilhada pelos seus familiares quando visitam o Paquistão.
Até à adolescência, o relato é mais passivo. Taha limita-se a viver sob o conjunto de regras, cada vez maior e cada vez mais restritivas. Mas quando retornam ao Paquistão apercebe-se da hipocrisia do que o rodeia, com a própria polícia a obter um lucro da comercialização de drogas, ou com lojas escondidas de bebidas alcóolicas para as quais se formam longas filas.



Mas é sobretudo na escola que Taha vai assistindo às manobras para se fingir cumprir a lei. Começa por uma escola bastante rígida que ensina apenas o livro sagrado, para passar a uma escola mais livre, onde raparigas e rapazes partilham a sala de aulas (ainda que, pela lei, não o possam fazer). Mas vai ser na faculdade que a sua mente se abre a novas perspectivas, e, por amor ao seu país envereda pelo perigoso caminho do jornalismo.
Visualmente, o desenho tem toques caricaturescos, mais focado nas personagens e nas suas interacções e como pouco detalhe para as paisagens ou o que rodeia as cenas. Em temos de discurso também se denotam algumas subtilezas que tornam o texto fluído, inteligente e cativante. Sendo um romance autobiográfico, Taha apresenta-se inicialmente como um cumpridor da palavra do pai, obediente, mas também curioso e questionador, duas características que, em adulto, justificarão o caminho que toma.



O volume toma o nome do café que Taha abriu actualmente em Paris, estando exilado do Paquistão, um local onde decorrerão tertúlias e exposições. Como leitura é uma narrativa interessante, tanto pelas circunstâncias do autor, como pela visão que teve sobre a forma como a perspectiva religiosa se tem tornado cada vez mais extrema.