Eis o primeiro volume de uma série que ainda não conhecia mas que tem, no mínimo, um aspecto curioso. Bem, na prática, são os dois primeiros volumes, dado que esta Black Edition reúne dois números num único livro. Para além da praticidade (e do aspecto) desta edição, a sinopse promete algo obscuro e de aura negra. Posso já adiantar que as expectativas foram cumpridas.

A história começa quando um Shinigami, um Deus da Morte, deixa cair na Terra um caderno da Morte, um death note. O livro encontra-se escrito num idioma humano e o rapaz que o apanha começa por achar que é uma brincadeira. Até ao dia em que se resolve a testar, uma brincadeira fugaz que tem elevado impacto – é que basta escrever o nome de alguém, pensando na sua cara, para que essa pessoa morra. Se se detalhar a morte, esta decorre conforme descrito, se não, a pessoa morre de ataque cardíaco.

O rapaz, Light, que apanha o livro não é uma pessoa qualquer. Estudante de elevadas capacidades, é filho de um investigador policial e, por vezes, até ajuda na descoberta de casos. Quando percebe que o Caderno da Morte é real, decide-se a eliminar os piores assassinos, sobretudo aqueles que vão tendo visibilidade nos noticiários. Entre se desculpar com o facto destas personagens merecerem a sua morte, é óbvio e as fronteiras éticas se vão esbatendo.

Death Note é uma história inteligente e sombria que apresenta um dilema ético no seu início, mostrando como a possibilidade de poder matar sem aparentes consequências é aproveitada por alguém que, em princípio, não o faria, corrompendo-se durante o processo. Claro que a morte súbita de vários criminosos não vai passar despercebida e para além da polícia, um investigador mundialmente conhecido (mas anónimo) irá envolver-se no caso.

Entre o investigador e o estudante estabelece-se um curioso jogo de gato e rato, uma dinâmica clássica explorada em várias narrativas, ainda que poucas vezes na perspectiva do assassino em série. Tal como outros assassinos, Light acredita estar a realizar boas acções, sendo que opta pelo célebre argumento de que os fins justificam os meios, e adoptando uma postura de moralidade superior.

A premissa é, portanto, relativamente simples mas intrigante. Light testa os limites do Caderno da Morte, ao mesmo tempo que a polícia e o investigador começam a perceber alguns elementos associados a Light (que é estudante, e em que região mora, por exemplo). Tal fará com que se exponha e mate outras pessoas para além de assassinos condenados, mostrando-se assim a progressão da flexibilidade moral de Light.

Opõe-se a investigação com o foco em Light, num policial invertido carregado de tensão e humor negro, mas onde o leitor conhece ambas as partes da equação. E mesmo do lado dos “bons” parecem existir algumas acções duvidosas. A par com estes focos, existem interacções curiosas de Light com o Deus da Morte que perdeu o Caderno, uma entidade sobrenatural que tem por objectivo divertir-se com a confusão causada.

Com todos estes elementos, este volume duplo de Death Note apresentou uma história intrigante e ritmada que vai evoluindo a premissa de forma inteligente e cativante. Não que se sinta empatia para com as personagens, mas vamos ficando curiosos pela forma como Light explora o Caderno da Morte ao mesmo tempo que tenta evitar ser descoberto – um jogo perigoso que se vai tornando cada vez mais complexo. A história é de tal forma curiosa que já adquiri os próximos dois volumes e espero ansiosamente que cheguem.