Alix Garin tinha criado, em Não me Esqueças, um relato fabuloso, tocante e envolvente onde explora o esquecimento que vem com a velhice e que, consequentemente, afasta da personalidade, do passado e da família. O tema, apesar de já ter sido explorado em várias outras obras funciona bem, com um visual que se integra bem na narrativa. Já neste volume, a autora expõe-se, falando da sua intimidade, e de vários problemas que não são, normalmente, assumidos.

A história de Impenetrável é autobiográfica, iniciando-se quando a própria autora começa a ter dores intensas nas relações sexuais, ainda que esteja num relacionamento amoroso estável e saudável. A partir daqui, a autora procura a origem destas dores ou da sua resposta fisiológica, demonstrando como os temas associados à sexualidade feminina são ainda tabu, mal compreendidos ou desconsiderados, inclusivé por profissionais das mais diversas áreas.

A história aborda mais do que esta dificuldade em obter um entendimento por profissionais de saúde, mas também a confrontação com as expectativas sociais nos relacionamentos, pressões sobre intimidade e construções sociais sobre papéis esperados. Ainda que o companheiro tenha uma reacção compreensiva perante as dificuldades na intimidade, não deixa de haver um sentimento de culpa por não se desempenhar um determinado papel.

A comunicação em casal é necessária, mas nem sempre é possível decorrer da melhor forma. A objectividade mistura-se com o desejo, a culpa, a frustração. As expectativas existem, de parte a parte, e não facilitam, quer o entendimento da situação, quer a obtenção de informação sobre o corpo – aspecto dificultado pela abordagem clínica, pouco empática.

A autora expõe a sua intimidade e sexualidade, como forma de dar visibilidade a um tema difícil, que envolve a satisfação sexual de muitas mulheres. É, consequentemente, uma leitura desconfortável. Não tanto pelo tema abordado, mas porque demonstra a padronização das respostas médicas, a insensibilidade perante a situação específica, e as dificuldades em encontrar, finalmente, alguém que perceba a origem do problema e que ajude a ultrapassá-lo.

Mas para além desta componente, a autora expõe, também, os contornos do seu relacionamento amoroso, demonstrando como o entendimento, a compreensão e a envolvência são necessários, mas, no seu caso, como sair do casulo das expectativas sociais, a ajudou a ultrapassar a situação. É, portanto, um relato corajoso, não só pela tema, como pela camada emocional que apresenta.