E se um homem tivesse o poder de modelar a realidade com os seus sonhos? Não o futuro, mas toda a história?

The Lathe of Heaven, de Ursula le Guin, obra nomeada para os prémios Hugo e Nébula e vencedor do Locus Poll Award, baseia-se nesta premissa.

George Orr é um homem normal, pouco ambicioso e até, medíocre, que não aguenta o peso da sua capacidade. Por essa razão tenta fugir aos sonhos, através de substâncias que lhe suprimam a capacidade de sonhar. Mas estes medicamentos não possuem efeito permanente e, apanhado pelas autoridades, é encaminhado para um psiquiatra, Dr. Haber, pelo uso abusivo de medicamentos.

Haber mostra-se inicialmente incrédulo, pensando tratar-se de um caso típico de pesadelos crónicos. Mas ao descobrir as potencialidades do seu paciente, Haber, com a ajuda de uma máquina, Augmentor, induz sonhos a Orr para melhorar o mundo, caracterizado pela sobrepopulação, doença, má-nutrição, aquecimento global e guerra.

Como pretendido, cada sonho de Orr transforma a realidade, mas nem sempre para melhor. As coordenadas de Haber são interpretadas pelo sub-consciente, instalando novos e mais complicados problemas, por exemplo, a sobrepopulação é resolvida através de uma peste que dizima uma grande percentagem dos seres humanos.

Com várias críticas à totipotência da psiquiatria, cada capítulo inicia-se com uma cotação de um autor diferente, desde Chuang Tse, H. G. Wells, Lafcadio Hearn a Victor Hugo:

Those who dream of feasting wake to lamendation

Chung Tse II

De Ursula le Guin apenas tinha lido obras de Fantasia, mas fiquei bem impressionada com The Lathe of Heaven, um livro pequeno, que apesar de ter poucas personagens, estas são o suficiente para desenvolver a história, sem falhas. Coerente, é original, e bem desenvolvido, mas sem pressas fazendo com que o final chegue atempadamente.

Esta obra foi adaptada duas vezes para cinema, uma em 1980, outra em 2002, sendo que esta última é descrita por Ursula le Guin como “misguided and uninteresting“.