Nomeado e premiado diversas vezes, Charles de Lint escreve fundamentalmente fantasia enquadrando-se por vezes no sub-géneros urbano. Após mais de sessenta livros, Charles de Lint é um dos nomes mais conhecidos no ramo que ainda não conheceu publicação em português (que eu conheça).

Medicine Road foi publicado inicialmente pela Subterranean Press, onde se pode ler o poema que abre a história. Mais tarde, foi publicado pela Tachyon e é esta a edição que tenho – um paperback de bom aspecto, com várias ilustrações de Charles Vess (o responsável pelas ilustrações em Stardust de Neil Gaiman). Foi então com alguma expectativa que peguei no livro.

A história desenrola-se entre o mundo real e uma dimensão mágica que coexiste com a realidade, em torno de dois seres, animais na dimensão mágica, que se vêm transformados em humanos. Mantendo a capacidade de se transformarem em animais, possuem um prazo de 100 anos para encontrarem o verdadeiro amor entre os humanos para poderem permanecer como seres de cinco dedos.

Para Alice, antes uma Jackalope (cruzamento entre lebre e antílope) foi fácil, tendo encontrado um pintor como companheiro, alguém que embora tenha assistido várias vezes à transformação de Alice, não acredita totalmente na sua origem. Jim Chaning Dog é uma pessoa bem diferente. De relação em relação, Jack não faz promessas de amor e ainda não encontrou alguém que o faça estabilizar. Até, semanas antes do prazo, encontrou uma jovem que o faz parar, Laurel, que actua em conjunto com a irmã gémea, Bess.

Em torno de Alice e Jack existem outras personagens, desde a réptil humana que, pegada ao passado, tenta por pura maldade afastar Jim de Laurel, à dura coiote que pensa ajudar as gémeas ao avisar Bess do perigo que pensa ser Jim. Cliché?

Ainda que a história possua contornos demasiado românticos para o meu gosto, entre a pressão a que é sujeito Jim pelo terminar do prazo face à jovem pela qual se apaixona e as restantes personagens meio humanas que resolvem intervir; tem alguns aspectos que apreciei.  A realidade mágica permite visualizar os objectos e a natureza de outra forma, e a transformação em seres humanos de animais possui um objectivo metafísico, em que cada ser deve elevar a sua alma, preocupando-se em ajudar os que o rodeiam, assim como em defender causas ambientais. São de realçar também as descrições do deserto, não como um local morto, mas como uma terra pululante de vida, e as extensas referências à mitologia dos índios, como os tokens.

Em edição graficamente vistosa, da história em si posso dizer o mesmo que penso em relação a vários outros livros: é engrado, mas nada de especial, possuindo alguns aspectos positivos que não foram o suficiente para me cativar e pensar em ler algo mais do mesmo autor.