Margo Lanagan é uma autora australiana cujos livros e histórias costumam ser publicados apenas na Austrália. No entanto, os seus últimos livros tornaram-se alvo de grandes atenções, mais especificamente Black Juice (que ganhou dois World Fantasy Awards) e Tender Morsels, um dos livros mais lidos e referenciados de 2009, também vencedor de um World Fantasy Award com The Shadow Year de Jeffrey Ford.
Inicialmente Tender Morsels foi lançado com uma capa desinteressante que recordava histórias infantis de ursos de peluche. Desenganem-se. Esta não é uma história para crianças ou adolescentes muito jovens, com referências constantes a assédios, mortes, abusos ou violações. A segunda capa deixa transparecer melhor o conteúdo, mas ainda assim, relembra demasiado imagens de vampiros e outras criaturas das trevas.
Tender Morsels inicia-se com a história de uma jovem, orfã de mãe e muito inocente, que vive numa cabana na floresta com o pai, por quem é abusada constantemente. Um dia sente-se mais pesada e deixa de ter a menstruação, facto resolvido pouco tempo depois pelo pai, com uma mesinha de bruxa de aldeia. A jovem Liga apercebe-se então da relação que existe entre as noites forçadas pelo pai, as menstruações e criança que desaparece agora. À segunda gravidez esconde as evidências.
Com a morte do pai e uma filha nos braços, a vida parece melhorar pela ausência dos maus tratos ausentes. Mas só parece. Vivendo sozinha na cabana pouco tempo passa até que é abusada por um grupo de rapazes que a irão engravidar. Desesperada, Liga pensa em matar-se levando consigo a filha, mas acaba por ter um estranho sonho onde lhe são concedidas duas pedras para plantar no quintal, que a irão proteger, e às duas filhas.
A cabana regenera-se, deixa de ser um barracão torto, os habitantes da vila parecem ser mais afáveis e ensinam-lhe uma profissão, com a qual sustenta a casa. O dia a dia ameno é cortado pelo aparecimento de um urso inteligente cujos olhos deixam transparecer pensamentos complexos.
No início a história parecia-me mais um romance em torno de mulheres abusadas, vítimas constantes de todo o tipo de violência. Apesar de Tender Morsels partir de um princípio semelhante, nem tudo o que parece é, e os factos que até meio parecem ser desconexos, talvez resultantes de um escritor desleixado, ganham depois sentidos e tornam a história coesa. É nesta parte que a história atinge o auge, com alguns acontecimentos inesperados que quebram aquilo que seria a resolução mais provável.
Tender Morsels torna-se assim uma obra fantástica engraçada, mas carregada por factos fortes, em suma uma alegoria que pode ser interpretada de várias formas. Ainda que tenha tido momentos surpreendentes, a história atingiu o exponente máximo a meio, tendo um fim algo banal que me terá desiludido um pouco. É, no entanto, uma obra que parece ter alguns pontos em aberto, que poderão servir para formar uma sequela.
Não tendo lido os restantes candidatos ao prémio World Fantasy Award, e apesar de ter apreciado a história de Tender Morsels, achei que a história de Pandemonium era muito mais original, apesar de, no início parecer comum.
Comprei este livro no final do ano passado, e já estava animado para lê-lo. Após esta sua resenha, então…! Obrigado! (estou também com Pandemonium – sabe como é, viciados em livros não deixam por menos – comprei todos os candidatos, menos The Shadow Year, porque acabou-me o dinheiro à época. 😦
A mim falta-me ler The House of the Stag para além do The Shadow Year. Entre Tender Morsels e Pandemonium não sei o que o Graveyard Book lá está a fazer – é engraçado como livro juvenil, mas comparativamente mais fraco.
E o pior é que o Gaiman disse algo assim após ganhar o Hugo – ele mesmo disse que Anathem merecia ter ganho. E eu concordo! (inclusive li todos os indicados ao Hugo na época e, como em 2009 havia me inscrito para participar da Worldcon – acabei não podendo ir em cima da hora, infelizmente – votei no livro do Stephenson).
Aí está outro livro pelo qual sinto muita curiosidade – Anathem. Ainda não lhe peguei.
Vale cada centavo.
Já para este ano, confesso que ainda não formei minha opinião completamente – acabo de ler The Quiet War e não gostei muito, mas a sequência (Gardens of the Sun) parece interessante. Também estou gostando muito dos romances de Andrea Cort, do Adam Troy-Castro. E estou terminando Yellow Blue Tibia , que tem tudo para ser o ganhador do BSFA deste ano, IMHO.
Não conhecia, mas depois de ler isto, acho que estou interessada e a história parece cativante.
Ops, não tinha visto a resposta seguinte do Fábio – dos BSFA apenas li o The City & The City que não se encontra nem de perto entre os restantes do autor. Pretendo ler o Lavinia nos próximos tempos. Agora que falaste tão bem do Yellow Blue Tibia, talvez me resolva a adquiri-lo nos próximos tempos. 🙂
Ana – eu gostei, apesar de ter achado o Pandemonium bem melhor.
Actualizando – o Lavinia já o li e não achei nada de especial … quase que medíocre nalgumas passagens…