
Da autoria de Neil Gaiman, vencedora de um World Fantasy Award, Sandman é uma das grandes séries de banda desenhada, uma daquelas que é de leitura obrigatória, principalmente para quem não procura uma história simples, de moral a preto e branco, e que cruze diversas mitologias com contos populares, onde a realidade escorre para a fantasia, como umas cortinas que se entreabrem e deixam vislumbrar algo mais.

Tendo lido os primeiros quatro volumes de seguida, percebo que efectivamente este primeiro mostra pouca coesão e direcção. Como o próprio autor refere, os primeiros meses foram complicados pois estava pouco habituado a escrever séries regulares. Mas esqueçam esse detalhe e deixem-se engolir pelos detalhes fantásticos aqui referidos, com vários episódios que revelam algumas das características do Neil Gaiman que conhecemos – as boas ideias fantásticas com um toque de estranheza fascinante, a inevitabilidade do destino, a realidade ligeiramente distorcida por elementos bem colocados que, sob uma perspectiva particular se tornam fulcrais.

A história começa com a viagem de uma seita ao reino de um dos Eternos e a captura do que pensam ser a Morte. Enganaram-se. Aprisionaram Sonho. Sem poder utilizar os seus poderes o equilíbrio do acordar / sonhar é quebrado e várias pessoas entram num sono interminável, outras são incapazes de dormir e enlouquecem lentamente por conta dos pesadelos que presenciam, pesadelos que, durante o sono aprisionam mentes de forma demasiado realista.

Aprisionado, silencioso, Sonho aguarda o momento certo para se libertar e voltar ao seu reino. O que encontra é um mundo em declínio, uma propriedade degradada que já não consegue repor e controlar com outrora, tanto por conta da sua ausência prolongada como pela falta de objectos que contém a sua própria essência e que perdeu quando capturado. Com pistas fornecidas por Hécate, a deusa de forma tripla, obtém pistas para a recuperação dos três objectos e parte em missão pela Terra para os poder recuperar.

A vida é estranheza, é morte, é sono, é melancolia. Assim é, também, Sandman, Personagem eterna, implacável mas compreensiva do seu papel em servir os mortais, que cruza elementos de várias deuses e criaturas sobrenaturais relacionados ao sono e ao sonho, vive com o peso da sua idade e das múltiplas vertentes que assume. Por vezes justo, por vezes carregado de ira e vingativo, Sonho assume as responsabilidades do seu papel com toda a solidão que lhe está associado.

Em Portugal Sandman foi publicado pela parceria Levoir / Público.