Num tom relaxado e desinibido, Saga vai tocando em alguns aspectos polémicos, assimilando questões associadas a preconceito que cada vez mais são relevantes na nossa sociedade. Mas Saga consegue fazer isto de forma inteligente, integrando estes aspectos na história.

Em Saga o conceito de família é algo fluído. Sim, existe mãe e pai, bem como avôs (nalgumas partes da história), mas criar uma criança requer trabalho (como diz o ditado inglês “It takes a village to raise a child” ) e toda a ajuda é preciosa. Neste caso vem de amigos (ou inimigos) que se juntam à eterna viagem no espaço. Há sempre mais um lugar para ir. Neste volume a família desloca-se a alguém que possa resolvar a gravidez de Alana levando-os a um novo planeta com personagens peculiares, pois a criança estará morta dentro da barriga.

Saga aborda a sexualidade como algo rotineiro. Algo normal que acontece entre adultos, quer sejam um casal, ou não. Não são de estranhar os fétiches ou os casais pouco convencionais. Para além de vermos casais de diferentes espécies sapientes encontramos trans género e pessoas de sexualidade fluída. Tudo de forma bastante natural.

Nada que seja de estranhar numa série que coloca, no centro do enredo, o relacionamento proibido de duas pessoas de espécies diferentes. Esta componente poderá ter algum paralelismo com os relacionamentos inter-raciais e com os problemas sociais que enfrentam. Neste caso, a relação é ainda mais perigosa porque gerou descendência, fazendo com que ambas as facções da guerra se unem para tentar eliminar a família. Será que esta preocupação em eliminar a descendência tem origem na explicação biológica de espécie? Bem, cá estarei para ler o final.

Mas este volume não toca só na sexualidade. Também no aborto e nas razões possíveis para o fazer, trazendo ao enredo uma mãe loba (curioso que a figura esteja associada à maternidade como a loba que salvou Rómulo e Remo) que realiza estes procedimentos em instalações pouco profissionais – os lugares oficiais não realizam abortos para este tempo de gestação, obrigando a família a deslocar-se aos confins da espaço.

Ainda que pareça pouco relevante na narrativa global da série (terei de ler o seguinte para perceber se assim é) este volume volta a conter elementos imaginativos e fantásticos como o povo esterco, uma espécie de entidades pouco racionais (quase zombies) que ganham vida a partir das fezes e que atacam quem encontram, numa luta literalmente suja.

Este oitavo volume continua com a boa disposição demonstrada ao longo da série, apesar da tragicidade dos acontecimentos. Existem batalhas épicas com espécies surreais. Existem picos de tensão que resultam em beijos inesperados. Existem crianças fantasma que saltam e brincam, desafiando a sua própria mortalidade (não, não me enganei a escrever). E são todos estes elementos que continuam a fazer da série uma das melhores histórias de Space Opera de sempre e que levam os leitores a pegar no próximo volume.

A série Saga é publicada em Portugal pela G Floy.