Neste pequeno livro publicado pela Coolbooks, o autor volta ao cenário de outros volumes, Saint Paul – uma cidade caracterizada pela industrialização, onde o ser humano é levado às consequências extremas dos seus sentimentos. Morre-se por amor. Mata-se por amor. Mas de formas abruptas e doentias reflectindo o desgaste dos sentimentos mais intensos perante a rejeição ou a insegurança.

Se, na primeira história, somos levados a conhecer o ritual de uma seita russa em que os homens amputavam o pénis e as mulheres os seios (símbolos, respectivamente, da serpente e do fruto proibido), a segunda leva-nos por um breve encontro no caminho para casa, no escuro.

Segue-se uma história de amor que tem vários elementos clichés, mas que consegue prosseguir pelo caminho menos esperado, enquanto nos apresenta um homem metido consigo mesmo que se apaixonada por uma prostituta. O resultado é uma boa história, desenvolvida com calma em que o autor demonstra capacidade para desenvolver – quer personagens, quer enredo.

Esta não é a única história de amor. Outras existem, movidas pelo ciúme e pela insegurança, acabando em tragédia ou de forma suspeitamente feliz – competentes e entregando uma leitura cativante seja qual for o final. Destaca-se, também, a história de um homem que, percebendo que perde o olfacto, deambula na cidade, perdendo, sucessivamente, várias outras faculdades.

Aqui encontramos crianças maldosas e adultos corrompidos. Crianças que, aparentemente são inofensivas mas que demonstram uma queda para a maldade, física e psicológica. Adultos que se deixam embalar pelas drogas e pela violência, embrutecendo a própria mente e o corpo dos demais.

Pelo meio, encontramos, ainda, o episódio de uma criança intersexual que cresce numa sociedade de detalhes ligeiramente distópicos (ou extremamente religiosos), que se revela mais positiva do que seria de esperar (dada a sucessão de desgraças que é típica em Saint Paul).

Revelando uma escrita competente, este volume reúne várias histórias que decorrem num mesmo Universo. Algumas cruzam-se com episódios já relatados noutros volumes, demonstrando as mesmas personagens ou outras perspectivas e dando, assim, a percepção de uma história maior que abrange várias partes. De forma genérica as histórias são competentes, e, mesmo as mais curtas, conseguem entregar uma narrativa sem parecerem episódicas (algo que costumo não gostar em contos). O resultado é de leitura escorreita e agradável, apesar de todas as desgraças que se relatam.