
Family Tree é uma das novas séries de Jeff Lemire e, resumidamente, ficou um pouco aquém das expectativas para algo do autor. A premissa fantástica (que pode tornar-se em ficção científica, se forem concedidos mais dados) ainda só foi apresentada (e pouco desenvolvida) mas depressa transforma a narrativa numa corrida contra o tempo por diversos motivos.

A história centra-se numa família americana em que o pai terá abandonado o núcleo familiar. O motivo da ausência é fantasiado, sobretudo pela mãe que tenta, desta forma, ultrapassar a ausência da figura paterna, enquanto se desdobra em tentar acompanhar ambos os filhos.

As primeiras páginas dão-nos a conhecer rapidamente esta realidade, mostrando-nos a mãe a ser chamada ao colégio do filho adolescente uma vez mais. Os seus esforços apenas encontram a condescendência do director que refere a necessidade de uma figura masculina em casa e tentando centrar nesta componente o problema em mãos.

Ocupada com os temas do filho, nem se apercebe que a comichão no braço da filha se alastra com uma rapidez alucinante, atingindo outras zonas do corpo. Mais do que uma comichão, a pele da rapariga assume aparência de casca de árvore. A corrida para o hospital torna-se numa fuga quando são abalroados por um grupo armado e o avô paterno surge para os salvar. E aqui começa o ritmo alucinado deste primeiro volume.

Que Jeff Lemire consegue mover rapidamente uma narrativa não é surpresa. O que é surpresa é o que o faça sem ter criado uma ligação genuína com as personagens. A caracterização, ao contrário do que lhe é habitual foi pouco centrada em cada um, não me chegando a envolver. Adicionalmente, as interacções com o avô parecem rápidas, precipitadas e pouco genuínas.

Em termos de premissa, esta parece ser minimamente interessante, ainda que, após um volume, pouco tenhamos percebido. A condição que leva a rapariga a transformar-se terá origem genética, mas o autor cai no defeito de contar mais do que mostra, usando o avô para esta componente. A somar a estas condicionantes, a excessiva velocidade não tendo criado a devida empatia é o que mais me antagonizou.

Acho que um dos temas com este primeiro volume foi a expectativa criada pelo nome do autor. Eclipse (outra série de banda desenhada que comecei recentemente) tem falhas mais vincadas do que esta. Mesmo Sonata envereda por um caminho de grande complexidade que pode fugir para a catástrofe narrativa rapidamente.

O desenho é peculiar mas consegue transmitir o pretendido, a narrativa é acelerada sem chegar a ser confusa. Existe alguma caracterização de personagens (não no nível a que estou habituada no autor). A premissa é simples e poderá tornar-se numa série interessante se bem explorada. Seguirei os próximos volumes desta série, mas com expectativas mais baixas do que as iniciais.