Eis uma das leituras fantásticas mais brutais de sempre! Já tinha ouvido falar do autor e até já tinha adquirido livros dele. Por algum motivo ainda não me tinha decidido a ler algum – até ter visto uma referência recente a este livro. O que encontrei é epicamente formidável!

O livro é composto por seis longas histórias que decorrem ao longo de vários anos. O Universo é bastante semelhante ao nosso, com a excepção de que existem dragões, sendo um deles o elemento principal das histórias – não como personagem, mas como circunstância que influencia tudo o que acontece.

O Dragão Griaule terá ficado imóvel após uma épica batalha contra um poderoso mago. Mas apesar de imóvel, sobrevive e continua a crescer, ocupando cada vez mais espaço na paisagem e nas mentes dos que perto dele vivem. É que apesar de imóvel, Griaule influencia tudo o que se encontra à sua volta. Dentro dele vive uma pequena sociedade de loucos. Fora crescem várias localidades, psicóticas em relação ao dragão, receosas do seu retorno e corrompidas pela sua maleficência.

Na primeira destas seis histórias, The Man Who Painted the Dragon Griaule, somos levados ao ano de 1853 para conhecer o plano para matar, lentamente Griaule. Do tamanho de uma paisagem, o plano é pintar as escamas do dragão com tintas venenosas, provocando-lhe uma morte pela arte. O que começou como uma ideia para extorquir dinheiro, torna-se rapidamente um plano sério quando o pintor escala o dragão e visualiza os olhos da besta. Esta história, nomeada para os prémios Nebula, Hugo e World Fantasy Award introduz o leitor no espírito da narrativa – intenções dúbias, personagens complexas e acontecimentos que permitem várias interpretações.

As restantes histórias, também nomeadas e premiadas para vários prémios, levam-nos a explorar outras perspectivas do dragão – até uma comunidade de seres que resultam de vários cruzamentos consanguíneos com uma linguagem própria e uma incapacidade consistente de seguirem uma conversa e um raciocínio, que vive no seu interior.

No exterior, o dragão influencia ou inspira, crimes e seitas. A sua sombra corrompe as vilas que o circundam e com o passar do tempo, a sua morte física parece finalmente vir. A degradação psicológica e moral é atraída pela mente do dragão. Podemos ver essa corrupção ao longo das várias histórias – num crime perpetuado, segundo o assassino, por ordem dragão ou num homem que se resolve a proteger uma estranha mulher dragão.

Capa japonesa para o livro The Taborin Scale.

Como disse anteriormente, as personagens são dúbias. Nem totalmente boas, nem totalmente más. Corruptas ou corrompidas apesar dos seus princípios, seguem destinos inevitáveis e catastróficos que seguem os planos obscuros do dragão imóvel. Com o passar do tempo desenvolve-se a civilização, de uma forma semelhante à do nosso mundo. Apesar desta progressão, a influência do dragão continua a fazer-se sentir na América do Sul, levando humanos a prosseguir por caminhos perigosos, até, diria, idiotas.

O resultado é épico. Os vários episódios que vão sendo relatados fazem parte de uma narrativa maior, peças de um puzzle que vai sendo composto apesar de todos os detalhes loucos, quase absurdos. Não é um plano delineado por humanos mas é, na verdade, um plano com consequências práticas. Todo o desenvolvimento é fascinante e grandioso, simultaneamente original e conhecido, enquanto usa referências fantásticas de uma forma nova, mas de subtil inquietação.

A primeira história encontra-se disponível para leitura gratuita: The Man Who Painted the Dragon Griaule. A primeira imagem do post é a ilustração da capa japonesa, que pode ser visualizada aqui.