O Preço da Desonra é um exemplo de mangás desenhado para um público mais maduro e adulto, diferenciando-se quer no estilo quer no traço mais realista. Estes mangá serão referidos como Gekigá. Hiroshi Hirata foi um dos mangakás que constrói mangás inseridos a este movimento, utilizando, nas suas histórias, temas mais realistas e violentos, sobre a vida dos samurais e do caminho do guerreiro.
O preço da desonra apresenta ambos os temas, centrando-se em Hanshiro, um cobrador de dívidas que procura a liquidação de dívidas contraídas por guerreiros samurais que evitaram a morte no campo da batalha, a troco de contraírem dívidas de valores exorbitantes. O volume apresenta sete histórias, demonstrando como, face à cobrança, o código samurai se desfaz, e os guerreiros optam por ludibriar, mentir ou fugir.



Se a imagem mais comum dos samurais é a de guerreiros honrados, disciplinados e corajosos, estes contos trazem uma vertente menos perfeita, demonstrando que, ao invés de enfrentarem a morte com dignidade, estes guerreiros preferiram contrair dívidas significativamente elevadas para salvarem a pele. Pior do que isso, mais tarde, fogem das suas dívidas – não só pelos elevados valores, mas para não admitirem que, face à morte no campo de batalha, se acobardaram.
Este contraste, entre o que é apregoado como o comportamento padrão dos samurais, e a realidade face ao cobrador é o tema recorrente que é explorado de diferentes formas ao longo das sete histórias. Esta repetição de conceito é aligeirada por perspectivas diversas que demonstram reacções divergentes, com as quais o cobrador vai ter de lidar.



O Japão onde a acção decorre parece ser governado localmente por casas de guerreiros que não só associam os vários samurais, mas como os representam neste tipo de casos. Se o samurai não puder pagar a dívida, decerto a sua casa é responsável pelo valor. Mas caída uma casa, os guerreiros perdem o poder associado e podem virar mendigos que procuram apenas um local digno para se suicidarem.
O cobrador, um guerreiro destemido e honrado, depara-se com múltiplas situações – mas em quase todas os endividados procuram fugir, enganar, ou até matá-lo. Mas nem todos os episódios são lineares e o cobrador tem isso em conta, havendo vítimas e execuções numa forma de justiça que é, muitas vezes, diferente e distintivo daquilo a que estamos habituados no nosso tempo.



Em termos narrativos, as sete histórias são relativamente simples. Como disse anteriormente, apresentam uma repetição de conceito que vai sendo explorado ao demonstrar reacções diferentes, conto a conto. Apesar da relativa simplicidade, são histórias pesadas e densas e dramáticas, fortalecidas por um traço realista e visceral com elevado detalhe e realista, tanto na representação de paisagens e casas, como de expressões faciais e corporais.
O Preço da Desonra é uma excelente leitura que apresenta um lado menos honrado dos samurais. É, dada a natureza da premissa, um conjunto de histórias sérias, carregadas de acção e combates, onde os finais são, quase sempre, deprimentes e expondo uma vertente menos romantizada sobre os guerreiros japoneses. A par com a exploração de uma vertente pouco usual, destaca-se pelo traço realista e detalhado que concretiza páginas brutais.



